O que restou do verão se despediu na manhã do último sábado, quando o equinócio de outono introduziu a estação das árvores que se despem. As quaresmeiras ainda fulguram cores, embora os eucaliptos já não recendam seu frescor nas manhãs. Mas esses, os sabemos de veneta.
O que esperar de uma nova estação se os dias seguem todos iguais?
No último verão que de fato existiu, ainda suamos nossos corpos, pulamos o carnaval, nos bronzeamos, abraçamos, beijamos. Nessa indecifrável e funérea estação que ora finda, não. Só criamos bolor: a cara azulada da luz fria das telas.
Este outono que começa será quase igual ao que passou, quando aprendemos a dura lição do que é ser trancafiado em casa para nossa própria segurança, senão por um único porém: pela primeira vez não desemboca do verão, senão de uma temporada vaga e tristonha.
O que faz o verão, confinado leitor, não é o calor nem as águas de março: é o desfile de moças em paninhos sumários, a cerveja gelada sobre as mesas nas calçadas, a churrascada na laje, o restabelecimento sincero da amizade com os amigos que têm piscina, férias em Piúma, banho de mangueira.
O outono agora entra com as mulheres brancas mais brancas e baças, a pele longe daquela almejada cor mestiça que a queda gradual da temperatura desbota. Os homens pancificados e amarelos lidam com os resultados do único esporte possível: o halterocopismo.
O projeto verão, que geralmente começa tarde demais e só vai dar frutos no outono, desta vez não houve. Entramos na nova estação, corpo e alma flácidos, cansados, opacos, descarregados do ânimo solar de um verão que não existiu. E ainda assim, gratos pela esmola de estarmos vivos.