Trouxe do jardim da minha tia uma planta para botar no quintal. Nunca soube seu nome. Nunca deu flor. Ficou lá, junto do muro, por meses. Quase três anos, na verdade. Encruada. Não ia nem pra frente nem pra trás. Não mostrava maior ou menor viço fosse inverno ou verão, seca ou chuvarada. Só sabia resistir aos dias, a folhagem verde, de aspecto brejeiro, tropical.
E eis que, dia desses, sem mais, explode uma floração amarela rajada de vermelho, fogaréu vegetal estalando na manhã. Não regamos especialmente, não adubamos especialmente, apenas deixamos que existisse ali, quieta e inofensiva à beira do muro. Sobreviveu a lagartas, à sanha de destruição do cachorro, a boladas e ao nosso descaso. Não precisava, pelo visto, da nossa atenção: precisava de paz e tempo. Então, floresceu.
No tempo do pra ontem, a planta colhida no jardim da minha tia ensina as virtudes do sossego. Do me deixa aqui no meu canto. Quem dispõe de tal luxo nos dias de hoje? Se o nosso tempo não é nosso, se aceitamos a aceleração do mundo maquinizado por ultraprocessadores que cabem debaixo da unha? Quem pode fazer do seu tempo um tempo realmente seu?
Para escrever esta crônica, vou em busca do nome da planta – para a escrita, mais importante o nome que o verbo. Ainda antes de me levantar, fuço o celular. “flor tipo bananeira”. “imagens”. Rolo a telinha luminosa. Lá para baixo, reconheço a flor. Descubro que é típica da América do Sul e Central, da família das Cannaceae. Bem tropical, gosta de sol e umidade. É chamada de cana-índica ou cana-do-brejo ou bananeirinha-da-índia ou bananeirinha-de-jardim.
A planta colhida no jardim da minha tia, que enrola suas folhas nos dias em que a umidade do ar está baixa demais, agora está plantada à beira de um muro na periferia do meu cérebro. Não creio que esse conhecimento recém-adquirido vá para frente ou para trás. Não sei sequer se resistirá aos dias. Vou esquecê-lo lá. Vai que, dia desses, floresça em alguma coisa.