Perdi as contas de quantas vezes perdi a paciência, nem sempre em silêncio. De quantas vezes perdi nas peladas de fim de semana. Perdi no par ou ímpar. No jogo de cartas. Perdi o sono. A fome. O ponto da carne.
Perdi o show do Hellacopters no Mineirinho em 2003 e do Stone Temple Pilots no Circo Voador em 2010. Perdi Molho Negro no Maquinaria e El Efecto no Beco. Perdi Aerosmith, AC/DC, Kiss, Black Sabbath, Ramones. Blues Pills na véspera do meu aniversário. Perdi meu copo dos Rolling Stones na calçada do Maracanã, ao lado de uma garrafa de Heineken pela metade quando a van chegou.
Perdi o fio da meada e não foi uma vez só.
Perdi o lançamento do livro do Anderson Pires, do Otávio Campos e do Edmilson de Almeida Pereira. Perdi “O golpe” do Zé Luiz Ribeiro. Perdi um desenho do Jorge Arbach porque não fui buscá-lo na portaria do prédio. Perdi o lançamento do álbum do S.A. no Cultural. E era para eu cantar uma música minha.
Perdi a Libertadores de 2021 por causa de um escorregão, o Carioca de 1995 por causa de uma barrigada e a Copa do Mundo de 1982 por causa de um Paolo Rossi, e confesso que das três esta é a que dói mais.
(É que as crianças ainda não sabem que no mundo não podemos todos ser felizes ao mesmo tempo.)
A chance de ficar calado poucas vezes eu perdi, mas a de falar, essa foi um monte. Perdi a mão pra desenhar. A saída certa da estrada. O rumo de casa. Perdi a hora. O tempo da música. O tom. A graça.
Perdi o medo e perdi a coragem.
Soy um perdedor, I’m a loser, baby, o que eu posso fazer?
Perdi as estribeiras e arremessei longe um banquinho azul de plástico. E a Júlia tinha só 5 anos. Perdi óculos, isqueiro, canivete. Tênis no show do Iron Maiden. Camisa da Seleção no Projeto Pub. Livro do Stephen King esquecido no avião. Três quilos quando tive hemorragia. Dois cachorros.
Perdi tios.
Vô.
Vó.
Um e outro amigo.
E assim vai se fazendo a vida de um qualquer, de todas as pequenas e grandes coisas que ele perde pelo caminho.