– Morreu o Evilásio, hein?
– Morreu mesmo.
– Foi de derrame, foi?
– Diz que foi. Achava que derrame nem matava mais.
– Mas esse matou.
– Esse matou mesmo.
– Pois é. Mas também não vai deixar muita saudade não.
– Quê isso, homem? Defunto nem esfriou ainda. Glorinha lá chorando o finado.
– Capaz dela ser a mais alegre.
– Para com isso, rapaz. Deixa o homem descansar em paz.
– Homem preguiçoso dos infernos, sô. Trabalhava duas horinhas por dia naquela oficina fajuta dele lá, e a Glorinha costurando pra fora, fazendo marmita, fazendo bico de cozinheira em casamento. Come e dorme dos infernos o Evilásio, isso sim.
– É, isso era mesmo. Não era muito chegado num serviço não. Mas a Glorinha gostava dele mesmo assim, né?
– Uai, tem gente que gosta até de bicho de pé.
– Tem isso.
– Glorinha gostava é porque quando as crianças eram pequenas ele é que cuidava de tudo. Corrigia dever, fazia merenda, dava banho. A gente tem que falar a verdade. Nisso aí ele era bom mesmo.
– Nisso ele era.
– Mas pra trabalhar ele era ruim.
– Queria que o mundo acabasse em barranco. Nisso ele era ruim mesmo.
– Mas pra cuidar de filho ele era bom.
– Pra cuidar de filho era mesmo. Aí ele era bom.
– Mas pra trabalhar era ruim.
– Pra trabalhar era ruim.
– Pois é. Era ruim, mas era bom.
– É. Era bom, mas era ruim.
– Grande Evilásio. Um traste.