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Rua Chanceler Oswaldo Aranha, 29 de novembro

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No dia 29 de novembro do corrente ano, estacionei meu carro em uma vaga na Rua Chanceler Oswaldo Aranha, em frente ao número 216. Como sempre faço quando tenho de permanecer por algum tempo a mais, saquei meu celular e ativei o aplicativo Zul Digital para não correr o risco de ser multado por estacionamento irregular. Pagamento feito, precisamente às 9h12, aproveitei para tomar um café e comer um queijo quente na Maxi Pão.

Na porta da padaria, encontrei meu amigo de infância Romildo Giacomini, que conversava com a esposa ao telefone. Evitei o abraço: eu estava suado de uns 50 minutos de enrolação na academia Fortes, ali nas proximidades. Falamo-nos rapidamente, convidei o casal para assistir a um show do meu conjunto RockTrackers em 22 de dezembro, no Bar do Luiz, e deixei Romildo com seus afazeres – estava indo fazer uma entrega em algum lugar no Cascatinha, se não me falha a memória.

O café com queijo da Maxi Pão é uma grande instituição juiz-forana. Como tinha de matar o tempo aguardando a Sra. Guiducci voltar de um compromisso, comi bem lentamente, saboreando cada crec da casquinha do pão francês, o queijo Minas esticando a cada mordida. Findo o lanche, voltei até o meu Fiat estacionado na última vaga possível da Rua Oswaldo Aranha, ali antes da área reservada às motocicletas, quase na esquina com a Rua São Mateus.

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A Sra. Guiducci havia me encomendado umas coisas verdes – hortelã, pepino, couve -, de modos que decidi ir até a quitanda do outro lado da rua e fazer a feira. Limões foram inseridos à lista e eu retornei ao carro. Já era ali pelas 10h quando me sentei ao banco do motorista e saquei as “Ficções”, de Borges, para continuar matando o tempo (percebam que foi uma morte lenta). Mergulhei um pouco nas aventuras do irlandês Vincent Moon, uma imersão um tanto superficial, pois não deixei de perceber, pelo retrovisor externo do carro, o guarda que me multava.

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Abri calmamente a porta e, antes que eu disse bom dia, ele me advertiu, “o senhor está estacionado em local irregular, aqui é carga e descarga e eu já estou emitindo a multa”. Dirigi-me calmamente até ele, que usava protetores plásticos nos joelhos, o que denunciava ser um patrulheiro de motocicleta, e parei em frente à placa de trânsito. Apontei para ela, “acho que o senhor está enganado, a placa diz que eu posso sim estacionar aqui”. Ele olhou para a placa. Olhou para o carro. Olhou para trás. Olhou o aparelho que tinha em mãos, aquele que emite as multas. “O senhor tem razão. Vou cancelar a multa.”

Ele estava bastante contrariado. Não sei se pela infelicidade de não poder aplicar a multa ou pelo constrangimento de ter sido confrontado com seu próprio erro. Perguntei se eu precisava tomar alguma atitude, fazer algum registro formal, e ele não me deixou terminar a frase, “não, eu estou errado, quando a gente está errado a gente tem que admitir, estou cancelando a sua multa agora”. Eu disse “acontece, aqui é uma vaga atípica mesmo, cabe apenas um carro, você pode ter sido induzido ao erro”, e ele “não, eu errei mesmo, e se estou errado eu tenho que cancelar a multa, pronto, está feito”.

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Visivelmente contrariado, o guarda subiu em sua moto, deu, afinal, um bom dia entre dentes, e partiu para buscar outras irregularidades dignas de sua atuação. A Sra. Guiducci chegou de seu compromisso, o tempo finalmente morto aos meus pés, e fomos embora para casa. No caminho eu contei, não sem um pouco de tola vaidade, sobre minha vitória no confronto com o homem da lei. Um êxito esmirrado em uma manhã em que as instituições funcionaram muito bem: o exercício físico, o café, a feira.

Agora, pouco antes de escrever estas linhas, abro o celular para checar questões relativas ao IPVA 2024, e qual minha surpresa ao conhecer o golpe traiçoeiro: multado em R$ 195,23 por “estacionar em desacordo com a regulamentação – vaga de carga/descarga” no dia 29 de novembro do corrente ano, às 10h08, na Rua Chanceler Oswaldo Aranha 204.

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