Luiza ouviu de esguelha enquanto passava pela porta da sala dos professores:
– O Tão ficou sabendo que não pode ter filhos, tadinho.
Não podia ser verdade. Logo o Tão, o Tio Tão, professor mais querido entre os mais queridos da escola.
Luiza ficou muito triste. Ela mesma tinha um pai que a amava muito. Achava injusto que outras crianças não pudessem ter a mesma alegria que a dela. O Tio Tão seria um ótimo pai se tivesse filhos, assim como o pai dela era um ótimo pai para ela.
No dia seguinte, Luiza não lanchou. Pegou o dinheiro que o pai lhe dava todos os dias para a merenda e comprou um presente para aplacar a tristeza que, ela tinha certeza, Tio Tão estava sentindo.
Quando ele entrou na sala de aula aquela manhã, Luiza foi até sua mesa e entregou-lhe uma caixa de sapatos. Na caixa havia diversos furinhos. E lá dentro alguma coisa se mexia.
– É pra mim? Puxa, muito obrigado, Luiza. O que será que tem aqui dentro?
Era um pato. Um pequeno, penuginoso e amarelo pato de olhinhos bem pretos.
– Olha, um patinho.
– É pra você tomar conta, Tio. De alguma coisa você precisa cuidar.
Tão olhou para Luiza entre a admiração e a consternação. Em uma fração de segundo, tudo a um só tempo, perguntou-se como ela sabia, sentiu-se acalentado e lembrou-se que tinha absoluto horror a qualquer coisa que voa.
A meninada logo se juntou em torno da mesa do professor para ver o patinho que Luiza, em sua inocente empatia, trouxera para Tão. Tomando cuidado para não tocar a criatura alada, ele deixou que todos a vissem e então colocou a caixa cuidadosamente sobre um armário de aço ao lado da janela aberta, e lá o pato ficou até o fim da aula.
Quando soou o sinal, Tão voltou a agradecer Luiza, realmente tocado pelo gesto carinhoso da menina, e rumou para a sala dos professores com a caixa. Lá dentro, o pato, na bem-aventurada ignorância dos animais, aguardava seu destino.