Gosto de pensar que sou um pai maternal.
No sentido de que lá em casa sempre dividimos as fraldas sujas, a sopinha de macarrão com feijão, os trabalhos escolares e o choro da madrugada.
Posso até não ser, mas gosto de pensar que sou como tantos outros da minha geração que romperam a dicotomia funcional do lar, do “isso é coisa de mãe, isso é coisa de pai”.
Mesmo assim, por mais que nos esforcemos, há coisas que não podemos suprir, e não é só o peito farto de leite. Por mais cuidadosos que sejamos – ou tentemos ser -, sempre haverá um “eu quero a minha mãe”.
No aperto extremo, mesmo nós, cavalos velhos, gritamos “mãe!”. Parecemos destinados a buscar conforto e segurança em colo de mulher, por mais que a mão paterna esteja estendida ao nosso alcance, por mais que a cultura dos povos através dos séculos nos tenha ensinado que somos os machos inabaláveis que devem prover a casa e ditar os destinos do mundo. Sem fraquejar. Sem chorar. Sem pedir ajuda.
Mesmo assim, sobre todas essas coisas impostas pela tradição, resta a certeza de que, como um todo, nós, homens, até aqui, falhamos como humanos, pois ainda não aprendemos a cuidar de nós mesmos.
Então, como cuidar do outro? De um filho. Um amigo. Um país.
Se estamos sempre à espera do resgate pela mão materna.
E hoje, nesse Brasil esfacelado em que gritos sectários ecoam em estádios de futebol a voz de uma sociedade adoecida, em que mentes beligerantes e gananciosas usam a inaceitável corrupção como justificativa para levar o país a um tempo de barbárie que nunca experimentou, estamos nós, fracos e incapazes homens, novamente à espera da salvação pela mão da mulher. De dois milhões e meio de mulheres engajadas. De 77 milhões de mulheres eleitoras.
Estamos nós, homens, mais uma vez, à beira do abismo, perdidos e sozinhos.
Estamos nós, mais uma vez, gritando “mãe!”.