Eu tenho um pé de tomate-cereja na porta de casa. Fica num nicho à esquerda de quem chega, meio escondido entre o muro do vizinho e a parede lateral da sala. O vaso onde cresce abrigava antes uma planta que não vingou. Um dia voltei da roça com um monte de tomatinhos. Comi quase todos e salvei alguns para seguir as orientações do meu tio: “é só revolver a terra, espremer os tomates por cima e aguar que eles vão germinar”.
Isso tem dois anos, e vira e mexe eu colho um punhado de tomatinhos, que uso em saladas, omeletes, na montagem de bruschettas ou de tira-gosto (com pedacinhos de um queijo qualquer e folhas de manjericão) em dia de jogo do Flamengo – vai bem demais com cerveja. Quando eles estão acabando no pé, sempre salvo alguns: revolvo a terra, espremo-os por cima e águo para que tornem a germinar.
O que impressiona no meu pé de tomate-cereja é que eu sou um péssimo jardineiro, quem dirá agricultor urbano. A natureza, que é generosa e trabalha em silêncio, faz todo o serviço por mim. Felizmente Juiz de Fora é uma cidade onde chove bastante. Assim passo dias esquecido da existência do pezinho de tomate. Quando vem um período de seca é que eu me recordo de ir lá dar uma olhada. Arranco folhas secas, rego, cavouco um pouco a terra. Mas é raro.
E nesses dias raros me encanta o altruísmo do pé de tomate. Não pede nada para si. Resiste ao meu abandono o quanto pode. Quando recorro a ele, me alimenta. Colore meu prato. Adoça minha boca. E mesmo quando não tem o que me oferecer, quando tem apenas flores ou tomatinhos muito pequenos e verdes pendurados em seus ramos, ele me dá esperança. Faz muito mais por mim, esse pé de tomate-cereja, do que eu por ele.