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Pra lá da BR

BR cronimetricas
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O juiz-forano típico, sabe-se, vive pra cá da BR-040, entre as margens da rodovia e o Floresta. Da BR pra lá habitam ciganos, aldeões, benzedeiras, camponeses e ermitões potenciais. Pra cá, urbanoides pretensamente cosmopolitas. Este equilíbrio demográfico, todavia, está prestes a desbarrancar.
Já há algum tempo, o juiz-forano típico tem pulado pras bandas de lá da BR. Nem se importa de ter que fazer a volta nas lonjuras de Ewbank, que seja: mudou-se de mala e Air Fryer para os vales e morros verdejantes, em busca de paz e tranquilidade, desde que haja bom sinal de internet.
Seus arautos são os milhares de bicicleteiros que colorem a paisagem de Humaitá e Monte Verde e Torreões de forma pouco natural com suas roupas sintéticas, frenéticas bandeirinhas de São João a tremular sobre duas rodas.
Atrás dos bicicleteiros vieram tratores e retroescavadeiras cortando morros, abrindo lotes e alterando a paisagem. Estão espalhados ao longo de toda a BR, roncando, fumegando e preparando condomínios tão rurais quanto shopping centers.
E mais: foi rasgado a tratoradas o véu de mistério que se sobrepunha sobre a cidade, até ontem bem guardada por morros dos olhos dos viajantes que trafegam entre Matias Barbosa e a Barreira do Triunfo. Sim, do lado de cá da pista também pavimentam várzeas e colinas.
Antes, quem passava ali indo ou vindo do Rio de Janeiro ou Belo Horizonte, questionava-se: que Juiz de Fora é essa que a gente não vê? Agora se acocoram devassáveis casarões no cume dos morros escalpelados e esta é a imagem da cidade que vai impressa na retina dos passantes.
Do lado de lá da BR, está irremediavelmente alterada a vida dos aldeões da margem do asfalto. Em troca da paz bucólica que almejam, os novos vizinhos trazem presentes: trânsito, ranger de máquinas, animais em fuga, câmeras e alarmes histéricos. O progresso, enfim.

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