Existiu certa vez um homem que lutava bravamente para não ter ideias.
Nenhuminha sequer.
Não se sabe ao certo se foi ideia sua _ o que faria desta uma crônica natimorta, dado o óbito prematuro da matéria, pois um homem cuja ideia foi não ter ideias, convenhamos, teve ao menos uma ideia – ou se foi apenas capricho do acaso, comportamento de ordem meramente instintiva. Mas fato é que aquele cidadão refutou toda e qualquer possibilidade de ter uma ideia que fosse sua.
Quando, entre amigos, sua mente ameaçava sugerir alguma ideia, recolhia-se à espera de que as pessoas ao redor apontassem-lhe o caminho. No trabalho, a mesma coisa, e tal virtude levou-o, como leva todos os chefes, a destacada posição de liderança: ficava lá sem fazer nada esperando que seus subalternos tivessem as ideias que conduzissem a empresa adiante.
Adepto de pratos congelados, enlatados e semiprontos em geral, não tinha qualquer ideia à mesa ou na cama, nunca fez um desenho ou escreveu uma carta de amor, jamais duvidou de Deus ou do homem, das bulas de remédio ou dos professores, dos políticos ou de si próprio.
(Homens sem ideias, como se sabe, tendem a ser muito seguros de si.)
Entenda, imaginativo leitor: não é que sua ideia fosse roubar ideias de outras pessoas, absolutamente. Tomar ideia do próximo, ou mesmo pagar para que outros tivessem ideias para ele, jamais foram ideias suas. Sem ideias, sim. Biltre, jamais.
E desta forma foi evoluindo o homem que nunca teve uma ideia sequer, ano a ano, até se transformar na mais perfeita e bem acabada rodinha de rolimã de que já se teve notícia em toda América do Sul.