Alíria teve dois filhos.
Um virou polícia, o outro virou ladrão.
Alíria não sabe o que fez para merecer isso.
Os dois foram criados iguais, diferença só de um ano, filhos do mesmo pai – já falecido que deus o tenha em bom lugar amém.
Estudaram nas mesmas boas escolas, frequentaram os mesmos parquinhos, assistiram aos mesmos filmes de polícia e ladrão.
Todavia, enquanto o mais velho decidiu dedicar-se aos estudos, frequentar a faculdade de direito, prestar concurso público e tornar-se delegado da Polícia Federal, o mais novo optou por organizar festas de faculdade, traficar drogas e tornar-se uma espécie de capo de uma rede de cassinos clandestinos.
Alíria não sabe o que fez para merecer isso.
Foi um escândalo danado quando a Polícia Federal desmontou o esquema do caçula de Alíria e, puxando daqui e dali, descobriu que o mais velho passava informações privilegiadas para o irmão a troco de polpudas vantagens financeiras.
Foi um bafafá. Um horror. O nome da família de Alíria foi para a lama. Mandado de prisão aberto em nome dos dois. Diligências. Burburinho em todo o bairro. Em toda a cidade. Em todo o país.
Coitada.
Alíria não sabe o que fez para merecer isso.
Mas mesmo sem saber agradece todos os dias ao tomar seu dry Martini crepuscular à beira da piscina da mansão que os meninos lhe compraram na aprazível Upper Carlton, Costa Oeste de Barbados, onde eventualmente os dois aparecem com as noras e os netos para confraternizações, ocasiões em que aproveitam para apertar a mão do presidente do Green Pound Bank of Barbados, agora um amigo de ouro de toda a família.