Amanhã o Cine Palace exibe sua última sessão. Vai passar “Perdidos em Paris”, dentro da programação do Festival Varilux de Cinema Francês, como ato final.
É bom que seja assim, lembrando na despedida sua vocação, nem sempre levada a termo, para filmes alternativos ao circuito comercial.
Eu não vou.
Me sentiria hipócrita, já que não vou há tanto tempo.
Nunca curti hype de funeral.
Acho comovente o movimento pela manutenção do Palace, mesmo que engrossado por muita gente que também não senta a buzanfa naquelas poltronas há anos.
Mas é uma realidade inexorável o fechamento dos cinemas de rua em todo o país. E é uma grande pena, não do ponto de vista da arte em si, mas da possibilidade do encontro.
Os cinemas de rua estão fechando não porque o cinema está em crise. Na verdade, com as tecnologias digitais, nunca se produziu e veiculou tanto. Estão fechando porque não queremos mais a rua. Não queremos mais o imponderável. O acaso.
Então vamos assistir à “Mulher Maravilha” nas salas assépticas dos shopping centers, naquele ambiente de coletividade controlada.
Não é só pela violência das cidades que evitamos a esquina da Rua Halfeld com Batista de Oliveira.
É que não suportamos cheiros que não sejam os nossos.
Queremos os mesmos perfumes.
Os mesmos risos.
Se é para sair da solidão desejada e assistida pelo WhatsApp e pelo Facebook, no conforto hermético de nossos sofás e Netflix e torrents, que emulemos uma experiência de compartilhamento quase laboratorial com nossos iguais.
Sem riscos.
Assim evitamos os imprevistos e o choque com o outro.
Com seu hálito.
Suas ideias.
E isso nos empobrece e emburrece.
Nos faz involuir.
O fechamento do Palace é tão lamentável quanto inevitável.
Diz algo sobre a gente.
Reflete não somente o fechamento de uma porta para a cultura.
Mas o fechamento de nós em nós mesmos.