Calha de o meu meio de vida ter me colocado com cotidiana frequência na presença de fotógrafos profissionais. A maioria deles do ramo do jornalismo, mas também fotógrafos de estúdio, fotógrafos de festa, professores de fotografia, fotógrafos cinegrafistas, fotógrafos artistas. Gente que ganha a vida congelando a vida alheia na língua de sapo do obturador.
E há um hábito que neles, hoje, não difere de nós, fotógrafos ordinários por trás das câmeras de celulares: a impaciência diante do mistério, a total incapacidade de saborear a espera. A cada par de cliques, o recortador de realidades corre os olhos na telinha da câmera para ver como ficou. E não raro é obrigado a mostrar ao fotografado, dado o universal desassossego que a todos nós contamina.
Muitos desses fotógrafos já experimentaram a deliciosa angústia de não saber se aquilo que seus olhos imaginaram quando colados no visor, mirando a vida que estava prestes a capturar, seria de fato dado à luz. Havia então, dadas as características das câmeras analógicas, o processo de revelação dos filmes. E até que a imagem surgisse dos banhos químicos, o que havia – para fotógrafo e fotografado – era a dádiva da imprevisibilidade, o ensino da paciência.
Nem discuto a economia e a funcionalidade que a digitalização da fotografia representa. Se antes o cabra tinha que lidar com a limitação dos rolos de 12, 24, 36 poses, hoje pode largar o dedo no botão do obturador e selecionar o que melhor lhe aprouver. Os processos se tornaram mais ágeis; o armazenamento, muito mais simples.
Ocorre, imagético leitor, que todo processo de simplificação e racionalização do mundo traz em si algum tipo de morte. Para o bem do venerado progresso, o tempo é acelerado, a poesia das coisas complexas, exterminada, e o fascínio pelo imprevisível, por tudo aquilo que não se pode antever senão com impetuosa imaginação, atirado à necrópole das coisas obsoletas.