“pe.lé® adj m+f sm+f Que ou aquele que é fora do comum, que ou quem em virtude de sua qualidade, valor ou superioridade não pode ser igualado a nada ou a ninguém, assim como Pelé®, apelido de Edson Arantes do Nascimento (1940-2022), considerado o maior atleta de todos os tempos; excepcional, incomparável, único. Ele é o pelé do basquete. Ela é a pelé do tênis. Ela é a pelé da dramaturgia brasileira.”
Essa é a definição do mais novo verbete do dicionário Michaelis. Pelé, atleta do século, virou adjetivo sem deixar de ser substantivo. E de dois gêneros, pois, transcendendo sua própria humanidade, Pelé supera classificações terrenas: pode ser a pelé da arquitetura, pode ser o pelé da culinária. Poderia ser também verbo. Higuita deu uma pelezada quando fez aquela defesa do escorpião. Fernando Montenegro pelezou demais em “Central do Brasil”.
O homem, caro leitor, quando tem seu nome transmutado para a categoria de adjetivo, palavra que modifica outros nomes, ascende da sua condição humana para outra esfera, para a natureza do divino. Nelson Rodrigues, pelé da crônica esportiva, o enxergou Rei em 1958: “ponham-no em qualquer rancho e a sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor”.
Eduardo Galeano, pelé dos assuntos da América Latina, em 1963, num hotel de Montevidéu, percebeu sua divindade. Durante entrevista com Pepe Gordo, agente de Pelé então, quis saber um pouco mais sobre a origem divina do filho de Dona Celeste: “A história do descobrimento me interessa. De como Deus foi revelado aos homens”.
Não faltaram, portanto, desde fins da década de 1950 do século passado, adjetivos laudatórios justapostos ao nome de Pelé. Agora é ele mesmo sinônimo daquilo que não tem igual. Grande demais, com todas as imperfeições que lhe asseguram alguma humanidade, Pelé não era feito da mesma matéria que nós, os ordinários, os comuns, os esforçados. Foi Pelé, mesmo que não quisesse ter sido, o pelé de sua própria existência.