O mendigo entra na requintada padaria arrastando seus chinelos e coloca-se no fim da fila do caixa.
Encrispa-se à sua frente uma senhora botocada em malhas de ginástica.
– Vende cachaça aqui agora? – murmura para a dona platinada ao seu lado.
O mendigo, estoico e nada surdo, mantém-se em sua posição, as mãos fuliginosas juntas diante do corpo, cabeça altiva observando os produtos ao redor.
Dispostos no balcão do caixa há apenas chocolates artesanais low carb, balas de gelatina sugar free e sementes e nozes de toda sorte embaladas em pacotinhos de dezessete reais.
Nem um maçozinho de Minister sequer.
Chega a vez do mendigo.
– Uma barra de chocolift, por favor.
– Pois não, senhor. Um chocolift com whey protein, leite de coco, sem açúcar e sem lactose. Confere?
– Perfeitamente.
– Dezenove e cinquenta, senhor.
E estica para o atendente as mãos acinzentadas de asfalto, despejando moedas sortidas de um real e cinquenta centavos. Nenhuma menor.
À porta, entreolham-se incrédulas a botocada e a platinada, enquanto o mendigo avança entre elas e ganha a rua. Mas parece ter esquecido algo. E retorna.
– Por gentileza, o crocante com linhaça dourada… quanto custa?
– Oito reais a barrinha de vinte gramas, senhor.
– Muito obrigado.
E volta à rua desembolando do bolso da calça encardida uma capa de chuva de plástico transparente.
Tem chovido muito em Juiz de Fora esses dias.