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Tudo vai bem

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A gente nunca sabe ao certo o motivo. Se foi porque levantou do lado errado da cama. Se botou o pé esquerdo primeiro no chão. Mas o fato é que em alguns dias a gente se sente terrivelmente imprestável, incapaz de fazer qualquer coisa que tenha a mínima serventia.
Se faz o café, amarga.
Se prepara o almoço, salga.
Se faz um elogio, é tomado por escárnio.
Se tenta ajudar um cego a atravessar a rua, leva com a bengala na cabeça.
E aí a crônica sai mal escrita, a parede fora do prumo, o leite talha. A cada esquina, a certeza de uma nova derrota, de forma que sua vida toda parece ter inspirado o Instagram inteirinho do “Coach de Fracassos”.
Mas se há esses dias, há outros, bem distintos. E se é culpa do lado da cama ou do pé que primeiro toca o soalho, é assunto que quadra melhor aos metafísicos e esotéricos.
Pois há dias em que, sem motivo aparente, elogiam-lhe o vestido na chegada ao serviço.
O corte de cabelo aparado há mês e meio.
O perfume repetido.
Então lhe chegam boas notícias por email e zap-zap, seu time ganha de goleada, você encontra entre as velas e os fósforos na gaveta da cozinha aquele brinco solitário há muito tido como perdido.
E a crônica vai bem, a parede sobe no esquadro, o leite é um bálsamo.
Nesses dias, somos nada menos que magníficos.

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