Desde que o modelo de Ensino Exclusivo à Distância mostrou-se falho, estudantes reúnem-se com professores em arenas educacionais ao ar livre, dotadas de grandes projetores holográficos e dispositivos de realidade aumentada e realidade virtual para exemplificação de conteúdos, onde debatem e compartilham conhecimento. O deslocamento até as arenas – como para qualquer outro destino terrestre – é feito através de módulos de transporte público com a aparência de ovos, que comportam até quatro pessoas e movimentam-se sobre trilhos a uma velocidade média de 500 quilômetros por hora através de levitação magnética, os populares egglevs. E é justamente a História do Transporte Humano o tópico que Horácio e Tomiris debatem no caminho da arena educacional esta manhã.
– Você fez a pesquisa?
– Fiquei impressionada, como as pessoas eram loucas.
– Andavam em cima de cavalos, né? Bárbaros demais.
– Isso é de menos. E aquele negócio de carro? Motor a combustão? Tanque cheio de derivados de petróleo altamente inflamáveis? Gente doida.
– Muito doido mesmo.
– E aquele negócio de estrada, gente? Dá pra acreditar naquilo?
– Pois é.
– As pessoas deslocando-se a 100, 150 quilômetros por hora em cima de rodas de alumínio e borracha!
– E achavam que aquela cinta
– Cinto de segurança.
– aquele cinto de segurança adiantava alguma coisa, rararararará!
– Muito bárbaros!
– Pô, bárbaros demais!
– E o mais louco é que, se não bastasse andarem àquela velocidade numa caixa de ferro e plástico, ainda tinha gente que vinha no sentido contrário! E na mesma velocidade ou mais!! Já pensou?!
– Morreu muita gente. Tipo, mais que em várias guerras.
– Mas claro, ué! O sistema era feito pras pessoas morrerem mesmo! Já pensou você indo a 100 quilômetros e o outro vindo a 100 quilômetros, você passando por ele a uma distância de, sei lá, dois metros! Dois metros entre você e o outro que vem de lá. Olha que doideira!
– Muito bárbaros.
– Bárbaros demais.
– Sem falar naquelas paradas de duas rodas, né? As moscicleta
– Motocicletas.
– As motocicletas que os caras andavam, às vezes até carregando alguém junto, um troço que nem parava em pé sozinho. Muito louco. Botavam um cassetete na cabeça
– Capacete.
– um capacete na cabeça e achavam que, tipo, ah, tá ok, posso cair que eu não vou morrer, dãã… tá bom.
– Muito bárbaros.
– Bárbaros demais.