A loja não está cheia, mas só tem ele para atender. Eu entro e fico esperando. A lista enviada pela Sra. Guiducci contempla “1 pacote de estopa grande, 1 galão de massa corrida de 5,7kg, 1 litro de aguarrás, 2 trinchas de 2,5 polegadas para o verniz, 1 rolo de 23cm para o teto, 6 lixas 150 e 2 lixas de ferro no 50”. Não é algo que eu simplesmente possa ir pelas prateleiras pegando, afinal, o que entendo de apetrechos de pintura? Não sabia que trincha era pincel e desconfiava que “lixas de ferro”, na verdade, eram “lixas para ferro”, mas quem sou eu, na minha infinita ignorância, para discutir a expressividade textual do pintor?
Ademais, não tenho pressa e o rapaz está lá a atender uma família. Uma criança de incrível disposição zune em zigue-zague sem derrubar nenhum produto, o que considero uma pequena façanha diante de tanta energia. Atrás de mim, uma moça, talvez senhora, entra e começa a olhar uma e outra coisa. Quando torno a olhar, ela já se foi. Talvez entendesse mais que eu e não encontrou o que queria; talvez tenha imaginado que o atendimento demoraria demais, e de fato já iam dez minutos desde que eu estacionara meu Fiat diante da loja. A placa condicionava a parada a 10 minutos com pisca-alerta ligado. Que nenhum espírito de porco venha me multar, penso comigo.
Do lado de lá do diminuto balcão, o rapaz segue pleno em seu atendimento. Aparentemente, nada pode incomodá-lo. Nem a criança correndo, nem a indecisão da mulher entre a tinta turquesa veneziana e a azul cósmico, nem o telefone que toca insistentemente ao seu lado e ao qual ele ignora solenemente, nem a minha presença, estacado ali de braços cruzados aguardando minha vez. O jovem atendente é absolutamente imperturbável e genuinamente admirável em sua serenidade comercial. Por alguns instantes eu o invejo. Em um mundo tão rumoroso e polifônico, manter-se assim, inquebrantável enquanto exerce seu ofício, é algo notável.
O telefone continua a tocar, fazendo-me mais aflito que ao rapaz. Um senhor chega depois de mim, carregando um capacete de motocicleta. Parece ser conhecido da casa. “Tem café aqui?”, pergunta, enquanto se dirige a uma mesa de canto. Sobre ela, na parede, pode-se ler em um quadro negro, escrito a giz: “Café deixa qualquer dia melhor”. “Tem um bolinho aí também, tá fresquinho”, recomenda o atendente enquanto faz o fechamento da venda da tinta, por fim, turquesa veneziana. Logo será minha vez. A essa altura, compreendo que, se o teimoso telefone não incomoda o jovem trabalhador, eu também devo ignorá-lo por completo. E ignorar o relógio, as mensagens de WhatsApp, o assédio do telemarketing e, quem sabe, alcançar, por minutos que seja, aquele estado de paz que reina insuspeito na loja de materiais de pintura.