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Eucaristia de cozinha

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Estive outro dia na casa de um amigo, grande cozinheiro. Desde o tempo em que dividíamos república na Rua Henrique Surerus, seis camaradas num quarto-e-sala, era ele o cara das panelas. Cozinhava por necessidade, hoje cozinha por diversão, para si, para a esposa, para um amigo esfomeado como eu. E é sempre um grande prazer vê-lo pilotando o fogão – quisera, no passado, ser piloto de avião, mas a miopia impediu, graças a Deus, senão teríamos perdido todos os pratos maravilhosos que tem nos preparado ao longo dos anos.
Agora meu amigo cismou de fazer pão. Na última visita, encostei-me na bancada da cozinha e fiquei bebendo cerveja, vendo-o tratar a massa, misturar os ingredientes, devidamente pesados em uma balança culinária, um tanto de fermento biológico seco, um tanto de água, um tanto de sal, temperinhos marotos etc. É metódico, esse meu amigo que gosta de cozinhar. E vê-lo trabalhar o alimento é como assistir a uma celebração religiosa particular. Um privilégio.
O que meu amigo oferece aos seus, caro leitor, não é apenas alimento. É uma comunhão. Não a comunhão ritual católica, cujo sentido simbólico é o da renovação da crença na transubstanciação do pão e do vinho na carne e no sangue de Cristo. Mas no ritual doméstico de meu amigo, todavia, o pão igualmente se transubstancia, pois não alimenta apenas o corpo, senão o espírito. E quando compartilhamos o pão e bebemos a cerveja em nossa liturgia particular, renovamos a fé numa velha e robusta amizade.

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