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Matadores de dragões

dragões
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Jorge Luis Borges conta que, certa feita, um homem de nome Chang Tzu narrou a história de um matador de dragões. O tal personagem treinou com afinco por três longos anos a arte marcial do assassinato das lagartixas voadoras. E uma vez graduado na exímia tarefa, pelo resto de seus dias nunca teve a oportunidade de exercê-la.

Penso que as cada vez mais frenéticas mudanças no universo da técnica nos colocam em similar condição à daquele desafortunado dragocida, que perdeu o bonde quando nem bondes ainda existiam. Pense você, datilógrafo leitor, que se esmerou por seis meses no aprendizado da escrita à máquina, e não há mais máquinas de escrever. Ou você, que aprendeu a dominar a sensível artesania da revelação de fotografias na câmara escura, e eis que ninguém mais usa câmeras analógicas. O mais insigne dos projetistas de cinema é hoje peça de museu tanto quanto os antigos rolos de filmes.

Dominar as artimanhas do Facebook foi essencial para se tornar um influenciador digital até semana passada, quando inventaram o TikTok. O ontem jaz empoeirado há anos-luz do hoje. A artífice de uma célebre comunidade do Orkut, hoje uma tiazona cringe. O manual “Como viralizar no YouTube?” menos útil que o Antigo Testamento. O que você aprendeu e tinha valor, razão de embaraços.

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Desenvolvedores de site que dominavam a ferramenta Dreamweaver, a tecnologia Flash, todos aqueles anos de educação técnica e aperfeiçoamentos vários não resistiram à dureza prática do eufemismo maior da contemporaneidade: “descontinuados”. O aprendizado da história, da química, da gramática, da biologia, inúteis ante a Meta AI no seu zap, o ChatGPT no seu celular, o Gemini no seu desktop?

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Onde voam seus dragões, tenazes aprendizes?

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