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O homem sobre o rochedo

rochedo
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Há um rochedo numa curva da BR-040, na altura do quilômetro 796. No alto dele está sentado um homem esta manhã. O homem é negro e corpulento, de uma corpulência maciça e pétrea, como o próprio rochedo. Recortado contra o horizonte radiante da Mantiqueira, o homem se transforma em pedra.
Abaixo do homem, zunem no leito asfáltico caminhões, motocicletas, ônibus e automóveis levando pessoas em busca de outras pessoas, de outros lugares, uma sinfonia de pressa e movimento, correria e desespero soando dos escapamentos de seus motores famintos de gasolina. Mas o homem no alto do rochedo permanece inabalável.
Se você contornar o rochedo pela estradinha que o circunda por fora da BR, verá que a face do homem, reluzente ao sol das oito da manhã, está voltada para o vale onde ondulam os mares de morros. Está alheio ao frenesi que, às suas costas, justifica a existência da rodovia: lugar de voar sobre rodas, para qualquer lugar que não o ali – e entretanto, às suas margens, estanca impassível o homem sobre o rochedo.
Quando você passar novamente pelo rochedo, verá que o homem já não assoma no alto paredão. O homem que fica enquanto tudo vai, não mais está. Onde terá ido o imenso negro que se fez pedra na manhã azul? Ou não se fez? Terá a pedra sucumbido à carne e tornaram-se vísceras os veios minerais? Será ele agora o próprio rochedo que se ergue na curva da estrada?

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