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A garrucha de Tibúrcio

garrucha
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Seu Tibúrcio anda armado desde que teve idade pra carregar sozinho uma caixa de jiló no lombo.

Enquanto campeava por esses pastos e riachos, sempre aos pés grossa botina, à cabeça o chapéu, atado à perna um facão bem amolado e à cintura a garrucha Rossi de dois canos, herdada do pai.

Não importa se ia fazer cerca ou destrinchar porco, caçar rã ou buscar o gado, a pé ou a cavalo, sempre à cintura a velha garrucha Rossi.

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Pois Seu Tibúrcio foi ensinado, pelos mais velhos e pela experiência, que o homem do campo está abandonado pelo estado. Senão Deus, não há quem olhe por ele. Então convém ter à mão uma boa arma. Para proteger a propriedade. E a própria vida.

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Seu Tibúrcio, nesses 80 e poucos anos de vida, entretanto, nunca teve que apontar a Rossi pra alma que fosse. Matou certa vez um gambá que lhe andava assaltando o galinheiro, e de outra um mutum, pra fazer na brasa no casamento de Lilica, mas logo viu que o chumbo lhe estragava a carne. De resto, tiro pro alto pra espantar cachorro-do-mato, pombo e maritaca.

Mas nesse fim de semana Seu Tibúrcio foi assaltado. Não tem celular nem cartão de crédito. A TV, valvulada. O rádio, a pilha. Mas Seu Tibúrcio foi assaltado. Esquentava um tacho de gordura pra tirar uma boa lata de banha de porco e foi assaltado. Na covardia, pelas costas.

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– É um assalto.

– Tenho nada não, meu filho.

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– Tem sim. Eu sei que tem e vim buscar.

– Buscar o quê, rapaz?

– Essa arma aí na sua cintura. Passa pra cá. Que é por causa dela que eu vim.

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Pacífico, Seu Tibúrcio entregou. Reluzindo, azeitada, carregada com duas balas de calibre 32. Prontinha pra ser usada. E absolutamente inútil, que o mal dessas armas de antigamente nesses tempos pouco românticos é esse: não provêm ao portador um par de olhos na nuca.

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