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Queda nas cotações do café: o que está por trás do fenômeno?

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O mês de outubro tem sido marcado, dentre outros fatos, pela queda nos preços das commodities agrícolas, sobretudo, do café. Essa queda vem sendo observada não só na bolsa de valores brasileira (Brasil, Bolsa e Balcão [B3]), mas também nas bolsas internacionais, como por exemplo a NYBOT, bolsa de commodities em Nova York. Em um contexto mais amplo, um fator que pode explicar essa queda de preços vem da aversão ao risco dos agentes diante de um horizonte, cuja previsão é de crise econômica. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), um em cada três países será atingido por uma recessão econômica em 2023. Aliado a isso, até o mês de outubro, o Federal Reserve (Fed) aumentou a taxa de juros americana em 0,75 pontos percentuais em cada uma das suas três últimas reuniões, deixando-a em torno de 3% e 3,25%. No Brasil, foram 12 elevações da taxa de juros básica da economia desde março de 2021, e na última reunião, ocorrida em setembro, foi decidido pela manutenção do seu valor em 13,75%.

Esse movimento das autoridades monetárias em prol do controle inflacionário contribui para que agentes invistam em aplicações mais conservadoras, como o Tesouro, fugindo daquelas com alta volatilidade. As commodities agrícolas, como o café, se enquadram nesse grupo, sobretudo, pelo fato de sua produção depender, fortemente, de fatores climáticos, que não são controlados.

No contexto nacional, a queda nos preços do café também é um reflexo do momento vivido pelo setor durante o ano. Ao longo de 2022, houve um aumento no volume de chuvas nas regiões produtoras de café, conforme registrado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Além disso, adversidades, como geadas e secas, foram menos frequentes do que na safra de 2021. Essa melhora nas condições climáticas pode ser um dos fatores que explicam o aumento da produção de café na safra de 2022.

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De acordo com o Boletim Café de setembro, disponibilizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), espera-se que a produção brasileira de café beneficiado fique em torno de 50 milhões de sacas na safra de 2022. Isso representa uma variação positiva de 5,6% em relação à safra de 2021. Desse total, 88,38% da produção vem dos três maiores produtores de café do país: Minas Gerais (47,73%), Espírito Santo (32,90%) e São Paulo (7,75%).

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Essas expectativas de crescimento e a baixa oscilação cambial levaram a uma melhora nas expectativas futuras dos agentes para o mercado cafeeiro. O ambiente mais favorável pode ter contribuído para a queda nos preços negociados do café no mês de outubro (redução de 12,7% do café Arábica nos últimos quatro meses, de acordo com o Cepea/ESALq/USP), revertendo o processo de alta registrado desde julho. Na bolsa de valores nacional, a B3, o café arábica, no final da terceira semana de outubro, registrou queda de 11,74% no mercado à vista, quando se compara ao início do mês. Nesse mesmo período, a redução foi ainda maior no mercado futuro com depreciação de 16,15%.

De modo geral, a queda nas cotações do café no Brasil resulta de um conjunto de fatores. Por um lado, expectativas de crise econômica mundial para 2023 e elevações nas taxas de juros tornam o mercado de commodities, como é o caso do café, menos atrativo: agentes modificam seu portfólio, dando prioridade a investimentos mais seguros, como o Tesouro. Por outro lado, condições climáticas melhores e estimativas de crescimento da safra em 2022 sinalizam para um aumento da oferta de café, o que contribui para a queda de seu preço.

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Por Jonas Nogueira, Pedro Vidigal, Jefferson Pereira e Weslem Faria

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