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Onde até os bancos sofrem

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Já disse Tom Jobim que o Brasil não é para principiantes. Mas a verdade dessa expressão aparece quando até bancos sólidos como o HSBC penam com a economia local. Em junho, o banco, 3º maior no mundo e 6º no Brasil em market share, anunciou a venda de suas operações por aqui. A justificativa para a retirada de um mercado potencialmente interessante como o brasileiro é a necessidade de redefinir estratégias e cortar gastos. Mas a realidade é que a saída do HSBC reflete a tendência de consolidação no setor bancário brasileiro, com grandes bancos devorando rivais num cenário econômico cada vez mais difícil, revela o chefe da área de instituições financeiras da Fitch no Brasil. A situação também evidencia mais um efeito nefasto da intervenção do Governo no setor bancário, ocorrida desde 2012, quando a presidente Dilma Rousseff instruiu os bancos estatais a reduzir os custos de empréstimos e intensificar a concorrência. Na ocasião, os maiores bancos privados do Brasil se recusaram a adotar a estratégia, preferindo proteger os lucros, mas o HSBC entrou de cabeça na competição, o que lhe rendeu um prejuízo de R$ 549 milhões em 2014 nas operações brasileiras, calotes superiores à média dos rivais e despesas acima da inflação. Ao contrário do que os incautos poderiam imaginar, até mesmo o setor bancário se vê prejudicado pela queda no nível de atividade econômica, renda real deprimida pela inflação em alta, desemprego e, pasmem, até, mesmo pela maior taxa básica de juros do mundo (13,75% a.a.), que não ajuda nem mesmo quem vive de juros, pois mina a confiança do tomador e reduz o apetite por crédito, além de elevar a inadimplência.

Dos 1.065 bancos listados pela Febraban em 1993, apenas 118 bancos ainda operavam no Brasil em 2014. Com o advento do Plano Real e o fim da hiperinflação (que gerava juros estratosféricos no “overnight” para os bancos), metade dos bancos brasileiros de menor porte quebrou entre 1994 e 1995. Quando a crise chegou a sete dos maiores bancos privados nacionais, o Governo resolveu evitar uma corrida bancária e lançou o Proer (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional), que resultou na concentração do crédito no Brasil em cinco grandes bancos (BB, CEF, Itaú, Bradesco e Santander). No âmbito do Proer, o BC injetou R$ 16 bilhões de recursos do Tesouro Nacional nos seguintes bancos: Nacional, Econômico, Mercantil, Bamerindus, Banorte, Pontual e Crefisul, a fim de reestruturá-los. Após a reestruturação, o Nacional foi comprado pelo Unibanco (que, em 2008, foi incorporado ao Itaú); o Econômico foi vendido ao Excel (posteriormente incorporado ao Bradesco, que também adquiriu o Pontual) e o Bamerindus foi comprado pelo HSBC. Três desses bancos ainda devem ao BC R$ 28,8 bilhões (em valores atualizados até fevereiro de 2015), que devem ser pagos até 2028: Nacional (R$ 21 bilhões), Econômico (R$ 7,7 bilhões) e Crefisul (R$ 26 milhões). Apesar de oficialmente não reconhecer a dívida, o HSBC pode vender suas operações no Brasil sem ter começado a pagar um empréstimo de R$ 3,2 bilhões que recebeu do Proer em 1997, quando se instalou no país.

Além de sair antes de pagar a dívida aos cofres públicos, ao comprar os ativos do Bamerindus, o banco assumiu um portfólio de quase 1,3 mil agências (hoje reduzido para cerca de 850), carteiras de seguros, leasing e títulos de empresas, assumindo também um lugar de destaque na economia do Paraná. Segundo o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, se as agências do HSBC na Grande Curitiba fecharem, o município deve perder aproximadamente R$ 86 milhões em arrecadação. O mercado de trabalho também vai ser prejudicado. A reestruturação global do banco deve gerar um corte de até 50 mil empregos, parte deles em solo brasileiro. A moral da história: no Brasil, bancos sofrem sim, mas os brasileiros certamente sofrem mais.

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