Embora composto majoritariamente por medidas de estímulo ao mercado interno, desde seu lançamento, o Plano Brasil Maior (2011-2014) buscou desonerar parte dos custos de produção das manufaturas exportáveis com o propósito de conter o crescimento das importações e a queda da competitividade industrial em nível internacional. Desde 2008, a preocupação já recaia sobre alguns indicadores da conjuntura econômica, que indicavam déficits comerciais frequentes (importações superando exportações) e um processo chamado de “desindustrialização da economia”, caracterizado por uma participação em trajetória declinante do setor industrial em relação ao PIB.
Alguns dados evidenciam o processo: enquanto, em 1985, a indústria respondia por 45% do PIB, em 2004 ela se reduziu para 28,7%, fechando em 23,4% em 2014. Correntes econômicas tratam, de um lado, a “desindustrialização” como uma combinação de abertura econômica, valorização dos termos de troca e apreciação do câmbio. De outro, salientam que essas variáveis não afetariam a indústria, cuja perda de participação seria algo natural e já observado em economias desenvolvidas, onde o destaque é o setor de serviços. Mesmo com explicações distintas, o fato é que essa queda de participação industrial é preocupante frente ao cenário econômico que se projeta para economia brasileira. Conforme o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a indústria brasileira encerrou 2015 com pior desempenho entre as principais economias do mundo, contraindo 12,4% em relação ao ano anterior e na contramão do crescimento médio global, que foi de 1,9%.
Os resultados dos primeiros meses deste ano são muito pouco animadores. Os últimos dados divulgados pelo IBGE, referentes ao mês de fevereiro, revelam que a produção industrial retrocedeu em 21 dos 26 ramos industriais nas 11 das 14 localidades pesquisadas. Ao comparar este mês com o anterior, o instituto divulgou uma queda de 2,5%, a pior desde 2002. Quando se contrasta o mês de fevereiro deste ano com o do ano passado, têm-se o vigésimo quarto resultado negativo seguido na atividade industrial brasileira, representando um tombo de 9,8% no período. As piores quedas ocorreram nos setores que demandam alta tecnologia, como informática e eletrônicos (-31,1%) e veículos automotores (-26,7%).
A combinação de incerteza, demanda interna contraída, restrição ao crédito, crescimento do desemprego e preços elevados do óleo diesel devem acentuar ainda mais o declínio da produção industrial no país até o final de 2016. O índice de confiança do Consumidor (ICC), produzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e índice de Confiança Empresário Industrial, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresentam recorrentes quedas, atingindo no mês de março 67,1 pontos (desconfiança se abaixo de 100) e 37,1 pontos (desconfiança se abaixo de 50). Quando há desconfiança, consumidores postergam suas compras e investimentos produtivos são suspensos, pois dependem das expectativas dos empresários sobre as taxas de retorno no longo prazo. É bom sempre lembrar que, onde há crise e instabilidade, decisões ficam em stand-by, aguardando até que um ambiente estável faça óleo voltar a circular no motor da economia.