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Cadê a poupança que estava aqui?

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Em outubro, os saques da caderneta de poupança superaram os depósitos em R$ 3,264 bilhões, o pior resultado para o mês desde 1995. Rendendo cerca de 7% a.a., com rendimento limitado a 70% da taxa básica de juros (Selic) e perdendo para a inflação (IPCA de 9%) – essa diferença de 2 pontos percentuais significando que o investidor perde quase 23% do poder de compra ao longo de um ano – o brasileiro buscou diminuir perdas, sacou recursos em excesso ou diminuiu o ritmo de depósitos. Mas não apenas o rendimento baixo explica os saques. A queda generalizada na taxa de poupança (volume de recursos não consumidos pela população) é ocasionada também pela diminuição na renda real e aumento nos preços. De 2008 para cá, a ‘poupança doméstica’, que corresponde a todo o dinheiro que não foi gasto em consumo caiu de 19% para 14% do PIB

Com a recessão econômica, sobram menos recursos das famílias para poupança e investimento. O cenário de juros e dólar altos (real desvalorizado) ocasiona um aumento de encargos e impostos, que reduz a renda das famílias e dificulta seu orçamento. Além disso, nos últimos anos, os estímulos aos gastos – com medidas como os cortes de impostos em linha branca e carros e a ampliação do crédito – foram superiores ao estimulo à poupança. Um dos efeitos dessa política é a incapacidade de o país manter períodos longos de prosperidade. Isso porque, o recurso que não é consumido pelas famílias, vira poupança e pode se tornar fonte de investimentos em infraestrutura e tecnologia e, assim, aumentar a capacidade das firmas produzir de forma mais eficiente, sem gerar inflação

Outro dado a explicar os saques crescentes é a desaceleração econômica chegando ao mercado de trabalho. Segundo o IBGE, a taxa de desemprego atingiu em abril seu pior nível nos últimos quatro anos, de 8%, a maior da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). A deterioração do trabalho também se reflete na queda do rendimento real (salários fixados e inflação ascendente).

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Ao fim e ao cabo, após longos períodos de estímulo ao consumo, fica difícil convencer o brasileiro a poupar. No Brasil, o consumo das famílias e do governo responde por 84% do PIB. Ao mesmo tempo, a taxa de investimento das empresas não supera os 20%. Com pouca tradição de poupar internamente, mesmo esse pequeno investimento necessita de poupança vinda do exterior para acontecer. Não sem razão, os economistas temem uma possível alta dos juros nos EUA até o fim do ano, que pode levar a uma migração dessa poupança externa para países de economia mais estável, deixando os investimentos brasileiros a ver navios.

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Por Beatriz Machado, Renan Guimaral, Karina Belarmino, Matheus Dilon e Wilson Luiz Rotatori Corrêa _ email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

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