Enquanto a China direciona recursos para o Brasil, grandes empresas brasileiras estão revendo seus investimentos por aqui. É o caso da Embraer, criada em 1969 com apoio do Governo brasileiro para fabricar jatos de treinamento e ataque (Bandeirantes e Xavante), aviões dedicados à agricultura (Ipanema) e aviões regionais (Tucano e Brasília).Durante a década de 1990,uma profunda crise culminou com a privatização da empresa em 1994. A partir de aportes de acionistas como o Banco Bozano, Simonsen e os fundos de pensão Previ e Sistel, a Embraer sofreu uma transformação radical, que culminou com sua entrada no proeminente mercado da aviação executiva. Atualmente, com uma base global de clientes e importantes parceiros de renome internacional, a empresa é a terceira do mundo na indústria aeronáutica.
Um dos poucos casos de sucesso na combalida indústria brasileira, no mês passado, a Embraer surpreendeu declarando que, em 2016, irá transferir a montagem final dos jatos executivos Phenom 100 e Phenom 300 de São José dos Campos (SP) para sua unidade de Melbourne (EUA). O espaço deixado, segundo informou a empresa, será ocupado pelos modelos comerciais, os aviões E2, que absorverão a equipe atualmente dedicada à montagem das aeronaves executivas, conforme acordo fechado com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. Enquanto isso, as instalações da Embraer em Melbourne já absorvem investimentos da ordem de US$ 76 milhões e empregam mais de 200 pessoas, no que se tornou o centro de inteligência da aviação executiva da empresa. Há ainda unidades na China, Singapura, França e Portugal, que produzem para o mercado europeu.
Não se pode acusar a empresa de antinacionalista. Operar no Brasil não é tarefa das mais fáceis. Além dos riscos políticos e cambiais, no final de 2014, uma greve e ações ativistas na unidade de São José dos Campos levaram a empresa a afirmar que haveria impactos significativos em “operações relevantes da companhia, causando danos para seus clientes e empregados, com consequências para os resultados do ano”. Apesar de ter participação no faturamento menor que a da linha comercial (16% contra 63%), a produção do modelo Phenom emprega atualmente cerca de 1.500 trabalhadores, direta e indiretamente. Em 2014, a Embraer entregou 116 aviões executivos, de um total de 208 aviões enviados a clientes no ano.
Essa não será a primeira vez que a empresa decola do solo nacional. Em 2011, a produção dos interiores das aeronaves, realizada em Jacareí, foi transferida para o México. A fábrica, que chegou a ter cerca de 200 funcionários, hoje tem apenas 70, 35% do capital humano empregado até 2010.Para a empresa, mudar para os EUA é uma decisão inteligente, que reduz bastante os riscos cambiais e a aproxima de seus principais clientes. Para o Brasil, é mais um golpe em direção ao solo da desindustrialização e perda de cérebros.
Por Fernanda Perobelli, Adryse Lima, IdalaCarolina,Thamyres Fernandes e Michael Pereira – email para: cmcjr.ufjf@gmail.com