As projeções dos principais analistas econômicos foram confirmadas: o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil teve uma queda histórica no segundo trimestre, conforme divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 1º de setembro de 2020. Mais precisamente o tombo foi de 9,7%, em grande parte por conta da crise gerada pelo coronavírus e as consequências da necessidade da adoção do distanciamento social e da paralisação da maioria das atividades econômicas durante alguns meses. Com esse resultado, a economia brasileira entrou oficialmente em recessão técnica, que é caracterizada pela redução do nível de atividade por dois trimestres consecutivos.
Essa queda de 9,7% do PIB brasileiro foi a mais expressiva desde que o IBGE iniciou o cômputo do PIB trimestral, em 1996. O PIB representa a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para mensurar a evolução da economia. A queda do PIB, embora muito expressiva, já era aguardada pelas instituições financeiras e de consultoria. A maior parte dos analistas econômicos projetava uma queda do PIB para o segundo trimestre entre 8% e 10%. Portanto, não houve surpresa nesse sentido.
Analisando com mais detalhes o resultado do PIB para o segundo trimestre, é possível perceber que o setor agropecuário foi o que menos sofreu com o tombo histórico da atividade econômica brasileira, tendo alta de 0,4%. A indústria teve uma queda de 12,3%; os serviços tiveram queda de 9,7%; o comércio teve uma retração de 13%; o consumo das famílias teve queda de 12,5%; e os investimentos foram reduzidos em 15,4%. São números expressivos que ajudam a entender a queda do PIB como um todo.
Comparando exclusivamente o segundo trimestre brasileiro com o de outros países, o Brasil não apresentou números tão singulares. A queda de 9,7% do PIB no segundo trimestre foi a mesma registrada na Alemanha. Os EUA registraram uma queda de 9,1% do PIB. Países europeus, como França e Reino Unido, tiveram um desempenho pior do nível de atividade econômica no segundo trimestre, com queda do PIB de 13,8% e 20,4%, respectivamente. Assim como alguns países da América Latina, como Chile, com queda do PIB de 13,8%, México, com queda do PIB de 17,3%, e Peru, com queda do PIB de 27,2%, todos resultados registrados para o segundo trimestre de 2020.
A recuperação de setores como comércio e indústria, bem como a flexibilização das medidas de isolamento e confinamento em todo o Brasil já funcionam como um alívio dos reflexos da pandemia. Embora haja ainda dúvidas sobre o comportamento da economia nessa reta final de ano, é provável que haja um pequeno e gradual crescimento da atividade econômica para os dois trimestres seguintes e uma recuperação maior para 2021. A projeção da CMC é de que o país precisaria aumentar o PIB em volume entre 5,5% e 6% em relação ao primeiro trimestre de 2020 para retomar o patamar do quarto trimestre de 2014. O pior parece já ter passado e pode haver uma luz no fim do túnel.
Por André Sobrinho e Bruno Gomes. E-mail para cmc.ufjf@gmail.com