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‘Eleições’, a nova ação da Bolsa de Valores

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Muitos eleitores ainda estão confusos sobre as propostas econômicas dos candidatos do PT e PSDB à Presidência da República. Na Bolsa, surgiu o “kit eleição” (ações que mais oscilam com os resultados das pesquisas eleitorais, basicamente de estatais, como Petrobras e Banco do Brasil). O dólar sobe. Desde 2002, quando o dólar chegou a quase R$ 4 com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, o mercado financeiro não era tão influenciado por uma disputa eleitoral. O que está havendo na economia por trás das urnas?

Basicamente, o que temos no cenário econômico é, de um lado, a proposta do PT, fortemente baseada em emprego e renda para as famílias (crescimento) às custas de um “pouco de inflação” (o IPCA já ultrapassa o teto da meta, tendo fechado setembro em 6,75% no acumulado de 12 meses). De outro, há a agenda da oposição (PSDB), baseada no “tripé econômico”. Neste domingo, essa proposta ganhou o apoio da candidata derrotada no primeiro turno, Marina Silva (PSB), que negociou a educação em tempo integral, a sustentabilidade e o fim da reeleição em troca de apoio à agenda de “mudança” do PSDB.

Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que a proposta do PSDB não é nova. Ela faz parte da cartilha das economias modernas há pelo menos 40 anos e se baseia em três metas: superávit fiscal, controle da inflação e câmbio flutuante, relacionadas às três áreas principais de política econômica: fiscal, monetária e cambial. No tripé, cabe ao Executivo apenas controlar seus dispêndios (política fiscal), investindo conforme a arrecadação de tributos e sem emitir moeda para o financiamento de gastos públicos. Isso porque, quanto mais dinheiro sem lastro produtivo há na economia, menos valorizado ele é (maior a inflação ou perda do valor da moeda). O controle da inflação e do câmbio deve ser responsabilidade do Banco Central, o guardião do valor da moeda. Com isso, ganha-se maior controle da inflação.

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E por que é importante controlar inflação? Porque, quando a inflação sobe, cria o chamado ‘imposto inflacionário’. Esse imposto ‘tributa’ principalmente o assalariado, já que seu rendimento não acompanha a alta dos preços e ele acaba comprando menos produtos com o mesmo salário a cada mês. Também prejudica o investimento das firmas, pois, num ambiente de preços descontrolados, fica mais difícil tomar decisões de longo prazo (como comprar uma máquina financiada). A ausência de controles cambiais também é importante porque, quando o Governo fixa artificialmente a taxa de câmbio, causa distorções econômicas graves, como menos exportações.

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Com a economia fraca internamente, pela inflação elevada e baixo nível de investimento, e externamente, pela relação distorcida entre moedas, podemos viver uma armadilha econômica de baixo crescimento (já observado em dois trimestres consecutivos de decrescimento do PIB) e inflação alta, conhecida como “estagflação”. Nesse cenário, manter o emprego é um grande desafio, pois simplesmente não há um nível satisfatório de atividade econômica e firmas acabam demitindo ou não contratando.

As perspectivas econômicas trazidas pela agenda econômica petista, fortemente baseada em gastos públicos, controles frágeis da inflação e pleno emprego mesmo com a economia em desaceleração, deixam o mercado financeiro agitado. A iminência de um segundo turno levou a uma recuperação da bolsa brasileira e do real na sexta-feira anterior ao primeiro turno. Para agradar ao mercado, o PT sinalizou com uma troca de comando no Ministério da Fazenda em um eventual segundo Governo, mas ainda pouca disposição para dar alguns anéis (controlar gastos e inflação) para preservar os dedos (estimular crescimento e emprego sem pressões inflacionárias). Por enquanto, o mercado ainda não comprou a ideia.

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Fernanda Finotti Cordeiro Perobelli

email para: cmcjr.ufjf@gmail.com

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