No dia 5 de agosto, após o anúncio pelos EUA de uma tarifa de 10% sobre US$ 300 bilhões de produtos comprados da China, o mercado mundial reagiu fortemente. A primeira reação, obviamente, veio da China, com o Governo chinês decidindo desvalorizar a própria moeda (em 1,60%) de modo a tornar seus produtos mais baratos para compradores americanos, além de proibir a compra de produtos do setor agrícola dos EUA, acentuando a guerra comercial entre os países.
Essa mudança no preço das mercadorias americanas e chinesas impacta diretamente as relações comerciais. Pelo lado dos EUA, por exemplo, importar tecnologia da China fica mais barato, visto que, após a desvalorização da moeda chinesa, com a mesma quantidade de dólares, passou-se a comprar mais yuans. Por outro lado, para os asiáticos, os produtos ocidentais tornam-se mais caros, o que pode tornar desfavorável a compra de produtos importados, como produtos agrícolas. Esse setor é bastante desenvolvido nos Estados Unidos, enquanto há grande demanda pela China.
Essa situação, em um contexto global, gera uma alteração nas margens de lucro das empresas capaz de causar uma mudança nos preços das ações das companhias de capital aberto. Como exemplo, no dia do anúncio da medida chinesa, o principal índice da bolsa americana fechou com o pior resultado do ano até o momento: queda de 2,98% do S&P 500. Até o momento, o índice ainda não recuperou tal perda, acumulando queda de 0,56%.
O Brasil também sentiu os efeitos da guerra comercial. A queda no Ibovespa no dia do anúncio foi de 2,51%. Porém, no âmbito brasileiro, a situação pode ser benéfica, como atesta a retomada do índice, que já fecha em 1,29% ao mês. Por exemplo, com a proibição dos chineses de comprar produtos agrícolas dos EUA, a soja brasileira já atingiu o seu maior patamar em quase dois meses, o que pode aumentar a quantidade de negócios fechados com o Brasil, devido a uma maior demanda de consumidores chineses.
Passado o susto inicial, é possível perceber que nem tudo é desespero. Uma guerra comercial entre as duas maiores potências do mundo nunca é uma boa notícia, mas pode vir a beneficiar alguns setores que estejam dispostos a tomar o lugar de um dos países na parte rescindida do comércio mundial, o que acaba se refletindo no lucro das empresas brasileiras, algumas delas de capital aberto. A boa notícia deve chegar assim também ao bolso do investidor em Bolsa.
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