A economia brasileira, apesar do baixo crescimento no nível de atividade, inflação em alta e elevada taxa de juros, vem conseguindo manter uma taxa de desemprego baixa, de acordo com dados divulgados no mês de setembro, em que se atingiu a menor taxa para o mês em 12 anos: 4,9%. Esse nível de desemprego poderia ser considerado o que os economistas denominam “pleno emprego”, uma situação econômica em que as pessoas encontram emprego sem dificuldades se estiverem dispostas a trabalhar ao salário vigente no mercado de trabalho.Para o Brasil, alguns economistas estimam tal taxa em torno de 5%. Uma boa notícia? Nem tanto.
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) contesta tal situação. Para o instituto, apesar do emprego no Brasil estar crescendo, com aumento dos cargos com carteira assinada e reajustes salariais acima da inflação, os brasileiros estão longe de alcançar a situação de pleno emprego. Isso porque as pesquisas sobre o assunto no país medem apenas a taxa de desemprego aberto (pessoas que procuraram trabalho de maneira efetiva nos 30 dias anteriores e não exerceram nenhum tipo de atividade nos sete dias anteriores à pesquisa) e não consideram pessoas em situação de subemprego, em inatividade por diversos fatores, além de outras situações consideradas “desemprego oculto”. Mercado informal, pessoas em subocupações e rendimentos médios baixos não condizem com uma situação de pleno emprego na opinião do IPEA.Pesquisa realizada pelo instituto mostra que, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), 80% das vagas criadas na economia são remuneradas em até dois salários mínimos, valor considerado baixo. Como exemplo de subocupação, a quantidade de empregados domésticos ainda representa cerca de 7% das ocupações nas regiões metropolitanas, segundo o IBGE. O número vem caindo (já representou 9% em anos anteriores), mas demonstra o alto nível de informalidade e de baixos salários na sociedade.Para o coordenador da pesquisa, deveria haver uma atuação do governo na promoção de mais e melhores empregos por meio de investimentos em infraestrutura, transporte e energia.
Além disso, o que os economistas têm discutido é até quando conseguiremos sustentar até mesmo uma taxa baixa de desemprego aberto, uma vez que a maioria dos principais indicadores da economia(como o PIB e as contas públicas) apontam para um crescimento muito baixo para 2014. A expectativa é de que, ao primeiro sinal do arrocho fiscal, necessário para retomarmos a trajetória de redução da taxa de inflação, a taxa de desemprego suba. A lógica é simples: como a taxa de desemprego aberto vem sendo sustentada em grande parte por uma política de expansão do crédito às empresas e às famílias e aumento do consumo, baixo crescimento e redução dos gastos públicos reduzirão o volume de subsídios aos agentes e a criação de empregos.
Se o setor privado terá incentivos para ampliar sua parcela de empregos e amenizar o efeito do ajuste fiscal é uma questão ainda em aberto. Poderia ter se o Brasil não estivesse enfrentando um momento de combate à inflação, com aumentos nas taxas básicas de juros. Os juros altos tiram o investidor da atividade produtiva (que gera emprego) e o direciona para investimentos no mercado de dívida pública, que diminui o ritmo da economia. Para piorar, o mundo desenvolvido está se recuperando, disputando poupança externa com o Brasil.
A moral da história é clara: países que assumiram a responsabilidade de ajustar contas no momento da crise, hoje colhem retomada do crescimento. Enquanto isso, o Brasil assiste ao ajuste batendo compulsoriamente à sua porta, o que, inevitavelmente, vai refletir em menos emprego para o trabalhador. Uma pergunta apenas fica entre os economistas: baixo desemprego até quando?
Por Wilson Rotatori, Rodrigo Rodriguez, Igor Reis, Matheus Dilon, Thaís Magalhães, Beatriz Machado, Karina Belarmino, Renan Guimaral, João Baeta e Fernanda Perobelli – cmcjr.ufjf@gmail.com