Mesmo em tempos desfavoráveis à captação de crédito, os bancos registram, no Brasil, lucros cada vez maiores. Segundo dados levantados pelo Economatica, em 2017, os quatro maiores bancos apresentaram lucro líquido contábil 14,59% maior que no ano anterior. Banco do Brasil, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander Brasil lucraram juntos R$ 57,6 bilhões no ano passado. O lucro de 2017 é o segundo maior dos últimos 10 anos, perdendo apenas para os R$ 61,947 bilhões de 2015. Em 2018, o resultado não tem sido diferente. No segundo trimestre deste ano, as 4 instituições financeiras já citadas e a Caixa Econômica Federal obtiveram lucro líquido de R$ 21,27 bilhões de abril a junho, o que representa alta de 15,3% em comparação com o mesmo período de 2017.
Mas de onde vem o lucro dessas instituições? Como esse setor consegue se sair tão bem mesmo em tempos em que os demais setores da economia vão mal? Ao contrário do que imagina o senso comum, parte relevante dos lucros dos bancos não advém de operações de crédito, mas sim da cobrança de serviços oferecidos por essas instituições, através de taxas. Para citar aqui apenas o exemplo do Banco Itaú, que em 2017 reportou sozinho lucro superior a R$ 23 bilhões, o resultado bruto das operações com intermediação financeira (receita menos custos para prestação dos serviços) chegou a quase R$ 50 bilhões. Se somarmos as receitas de prestação de serviços e as receitas de tarifas bancárias, tem-se quase R$ 36 bilhões. Os resultados apresentados com essas modalidades de receitas ficam mais impressionantes ainda quando somarmos os cinco principais bancos do país: mais de R$ 115 bilhões em 2017.
Outra fonte importante de receitas para o banco é o spread bancário, a diferença entre o custo de captação (taxa paga ao depositante do recurso) e a taxa cobrada do tomador de crédito. Tal spread é responsável por cerca de 14% do custo do crédito no Brasil. De acordo com relatório publicado pelo Banco Central, entre 2011 e 2016, a inadimplência respondeu por 55,7% da composição do spread dos bancos, impostos por 15,6% e os demais custos (lucros, custos administrativos e depósitos compulsórios) pelos restantes 28,9%.
Compreendido de onde vêm os resultados dos bancos, faz-se necessário propor soluções para um melhor funcionamento do sistema. Em época de eleições, não faltam candidatos que tratem do setor em suas propostas de governo, a exemplo de Ciro Gomes, Guilherme Boulos e Fernando Haddad. Os cinco maiores bancos do país dominando quase 80% do mercado de crédito; portanto, ao contrário do que propõem os candidatos, não será do dia para a noite, muito menos com canetadas, que as mazelas do setor serão resolvidas. A médio e longo prazo, destaca-se a agenda BC+ apresentada pelo Banco Central recentemente, que traça planos de incentivo ao desenvolvimento de novas fintechs (pequenas empresas financeiras com forte carregamento tecnológico, a exemplo dos bancos digitais), redução da burocracia para adentrar no setor, etc.
Importante também destacar o papel do Congresso Nacional nesse processo, com a aprovação de duas medidas recentes: a criação da TLP em substituição a TJLP e do cadastro positivo. Ambas devem ajudar a reduzir o custo do crédito no país. Não menos importante, entretanto, é o papel do consumidor: pesquisar tarifas, migrar contas, tomar medidas que evitem a ciranda financeira gerada por gastos descontrolados é o que fará com que menos renda migre da população para os balanços dos grandes bancos. Uma troca justa.
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