Querendo saber o que que o Brasil tem, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, passou por terras tupiniquins declarando a intenção de investir US$ 53 milhões por aqui. Mas por que mesmo? Sem pretensões de parar de crescer, a economia chinesa precisará transportar, de forma rápida e barata, o que necessita daqui para a Ásia, round trip. Atualmente, a rota mais curta é através do Canal do Panamá. Porém,sua relação com os EUA e a falta de suporte a navios de grande calado, levaram os chineses a pensar em novas rotas, o que culminou com a construção do Canal da Nicarágua. Com concessão garantida por 50 anos, o canal será capaz de suportar qualquer tipo de navio, com previsão de estar concluído até 2020.
Se saírem do papel, os acordos Brasil-China que vêm sendo costurados podem criar um efeito multiplicador importante na região Norte, no caminho para o escoamento da produção, principalmente de commodities. A região, porém, carece de pesados investimentos em infraestrutura, principalmente via hidrovias, seu grande potencial. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), para criar competitividade regional, foram identificados 151 projetos, dos quais 71 são considerados prioritários para melhorar o escoamento da produção, com investimentos de R$ 15,2 bilhões para que sejam concluídos até 2020. Apesar dos desafios, uma série de empresas já começaram a investir por lá. A empresa de alimentos Bunge inaugurou, em 2014, uma rota de exportação, possibilitando o escoamento via Porto de Miritituba e da hidrovia Tapajós-Carajás (PA), eliminando cerca de três mil viagens de caminhão/mês entre Mato Grosso e os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR) – minimizando os custos de transporte.
Um outro projeto relevante financiado pela China é a construção da ferrovia Transoceânica. A linha deve ligar o Porto do Açu, no Rio de Janeiro, ao Porto de Ilo, na costa do Peru.Para os chineses, o acordo tem como objetivo garantir as exportações brasileiras de commodities, como soja, minério de ferro e carne bovina.
Mas nem tudo são flores nessa parceria. Acordos entre os dois países seguem por mais de uma década. Em 2004, a estatal chinesa na área de infraestrutura, Citi, assinou com o BNDES e outros países da América Latina parcerias de aproximadamente US$ 110 milhões. O interesse chinês naquela época já era na construção de uma saída de escoamento de produtos pelo Pacífico e em projetos ferroviários no Brasil, como as ferrovias Norte-Sul e a Transnordestina. Os recursos chineses não chegaram a nenhum dos dois projetos e, em ambos, a funcionalidade hoje é precária ou mesmo inexistente. Promessas de investimento chinês não realizadas por aqui somam US$ 24 bilhões em obras não concluídas. Somado a isso, apenas 14 dos 35 acordos econômicos recém-assinados têm recursos garantidos para sair do papel.É esperar para ver.
Por Maria Eduarda de Paula, Matheus Dilon e Tamires Tosta – email para: cmcjr.ufjf@gmail.com