Ainda enfrentando duros meses desde o início de 2021, o Brasil encerra o semestre diante da perspectiva de uma terceira onda de coronavírus. Os setores produtivos repetidamente temem novas imposições restritivas e tentam recuperar, de forma gradual, seus ritmos de funcionamento como os praticados antes da pandemia. Por conseguinte,
observa-se a parcela com maior insegurança nestes tempos pandêmicos, os trabalhadores. Com o mercado de trabalho cada vez mais seletivo e enxuto, boa parte da força produtiva formal brasileira encara as incertezas da crise com preocupação já que o número de desocupados tem crescido fortemente no país.
De acordo com os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgados pelo IBGE, a taxa de desemprego no Brasil encerrou o primeiro trimestre do ano em 14,7%, uma alta de 0,8 ponto percentual na comparação com o último trimestre de 2020. Esse número representa um alto contingente de pessoas na fila por um emprego – 14,8 milhões – sendo a maior taxa e o maior contingente de desocupados de todos os trimestres da série histórica iniciada em 2012. Adicionalmente, a pesquisa mostra que, dentre as categorias, o único aumento na ocupação ocorreu entre os trabalhadores por conta própria, que cresceu 2,4%, e cuja taxa de informalidade foi de 39,6% – equivalente a 34 milhões de pessoas – demonstrando estabilidade em relação ao trimestre anterior (39,5%).
É importante ressaltar que a análise desses números deve considerar alguns fatores essenciais, como a sazonalidade, que pode ter afetado o crescimento da desocupação nos primeiros meses de 2021. As taxas de desocupação costumam aumentar no início de cada ano, tendo em vista o processo de dispensa de pessoas que foram contratadas no fim do ano anterior e, assim, essas pessoas tendem a voltar à fila da procura por emprego. Por outro lado, o primeiro trimestre foi o período no qual a segunda onda de Covid-19 deu-se, com amplas medidas restritivas sendo postas em prática no país inteiro.
Tais providências cercearam novamente os setores produtivos, especialmente o já enfraquecido setor de serviços, e podem ter influenciado no crescimento observado nos dados até março, algo que poderá confirmar-se com a consolidação de novas informações referentes ao fim do semestre.
De qualquer forma, é inegável o impacto do arrastamento da pandemia por tantos meses no mercado de trabalho brasileiro. A ineficiência em tomar medidas efetivas da forma correta como feito em outros países coloca o Brasil em uma posição singular no mundo, com o descontrole do vírus e seus reflexos persistentes em todos os âmbitos econômicos.
O trabalhador brasileiro sabe que a retomada das atividades e, consequentemente, de sua segurança sanitária e empregatícia está intimamente relacionada à vacinação em larga escala, como aponta a ciência, e essa possibilidade vislumbrada para a segunda metade do ano teria capacidade de reaquecer a economia do país. Concomitantemente, o retorno do crescimento permitirá ao mercado ocupacional que absorva novamente a ampla parcela da população que se encontra marginalizada de uma atividade produtiva.
Por João Víctor Lavorato e Bruno Gomes. E-mail para cmc.ufjf@gmail.com