O avanço da “gig economy”, comumente tratada no Brasil como “uberização”, é um dos fenômenos mais relevantes no mercado de trabalho em nível mundial na última década. Sua expansão alavancou debates sobre a precarização do trabalho, uma vez que, simplificadamente, diz respeito ao processo decorrente da popularização dos aplicativos de contratação de serviços por demanda.
Fontes como a PNAD Contínua e PNAD Covid-19 expõem um aumento acentuado no número de trabalhadores no setor de transporte de mercadorias – crescimento de quase 1.000% – acompanhado de fenômeno semelhante, que ocorre em menor escala, no transporte de pessoas.
Desde 2016, quando o desemprego se ampliou no país, novas formas de serviço foram popularizadas como uma alternativa possível para obtenção de renda. As gigantes companhias de tecnologia chegaram ao país a partir de 2014 e, desde então, foi possível acompanhar o “boom” na oferta e na demanda desse modelo de serviço, tendo como um dos maiores e mais emblemáticos exemplos a Uber.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em 2021 havia cerca de 1,4 milhão de trabalhadores no setor de transporte de passageiros e mercadorias. Hoje, entretanto, o cenário é de um ciclo insatisfatório tanto para operadoras dos serviços como para, principalmente, motoristas e consumidores finais.
Condições – como o aumento no preço dos combustíveis – têm tornado inviável a permanência na atividade de motoristas que dependem somente dessa fonte de renda que não oferece vínculo empregatício. Não há, portanto, retorno de benefícios como contribuição ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), aposentadoria ou férias, além disso, as empresas cobram parcelas elevadas do valor pago pelos passageiros. Nos últimos meses a quantidade de reclamações de usuários da plataforma Uber tem sido exponencial, seja pela dificuldade em encontrar um carro, pela demora ou até mesmo pelos valores apresentados ao solicitar uma corrida.
A queda na utilização, antes tão popular, desse meio de deslocamento urbano é tão relevante que as buscas por taxis, tendo como base a capital fluminense, cresceram 60% nos meses anteriores a dezembro de 2021. O fenômeno tem íntima relação com a queda no número de motoristas trabalhando na plataforma, desgastados pelo tempo já vivenciado de valores baixos pagos por viagens, insegurança e constantes aumentos no preço dos combustíveis. É fato que a gig economy veio para ficar, mas dificuldades impostas (ou somente evidenciadas e agravadas) pela mesma exigem grande atenção ao mercado de trabalho brasileiro.