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Uma pedra no meio do caminho

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O volume de crédito no Brasil aumentou mais de 500% entre 2003 e 2013 (de R$ 381,3 bilhões para R$ 2,5 trilhões) e passou a representar 55,2% do PIB do país, segundo relatório divulgado pela Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Como parte de uma estratégia de buscar maior rentabilidade para seus ativos, os bancos comerciais passaram a ofertar não apenas mais crédito aos agentes deficitários, como também outros tipos de serviços, como avais e fianças, importantes estimuladores do crédito. Ainda que acima de outros países latino-americanos com grau de desenvolvimento semelhante, como México (20%), Argentina (12,5%) e Colômbia (36%), esse indicador é bem inferior ao observado nas economias desenvolvidas e em desenvolvimento, como Coreia do Sul (101%), Malásia (100%) e Tailândia (82,7%).

Um sistema financeiro eficiente é capaz de conceder crédito para atender à demanda por liquidez de empresas e famílias. É por esse sistema que recursos de poupadores (superavitários) recebem os juros pagos por agentes que necessitem de dinheiro (deficitários). No Brasil, o sistema de crédito ainda é predominantemente bancário, com forte participação estatal (Banco do Brasil, Caixa, BNDES, etc.), especialmente nas linhas de longo prazo à indústria e à infraestrutura.

Entre os anos 1980 até quase a metade dos anos 2000, houve baixa oferta de crédito (abaixo de 35% do PIB), em razão da alta inflação e baixa previsibilidade nas previsões. Somente a partir de 2004, com o crescimento do produto e da renda, estimulado pelo aumento das exportações de commodities, criação de crédito consignado, melhoria no perfil da dívida pública e certa redução na taxa de juros, a oferta de crédito teve maior estímulo. O boom foi inicialmente incentivado pelos empréstimos para pessoas físicas (segundo dados do Banco Central, a razão de crédito a pessoas físicas/PIB saltou de 9,3 em jan/2004 para 26,1 em jan/2014), estendendo-se para pessoas jurídicas a partir de 2007.Neste segmento, a principal medida foi a redução, pelo Governo federal, da TJLP (Taxa de Juros de Longo prazo) do BNDES, a principal taxa usada pelo banco para empréstimos, que foi reduzida para um patamar inferior à própria inflação: 5%. No auge da crise de 2008, o Governo federal também contribuiu para a elevação no indicador. Em agosto de 2007, o crédito tomado pelo Governo Federal representava 0,15% do PIB; em agosto de 2013, esse número chegava a 1,56%. Já no setor privado, o destaque ficou para o setor imobiliário, que mais que quadruplicou seu indicador: de 1,73% para 7,85% do PIB nacional.

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Entretanto, o fôlego tem limite. Considerando que quanto maior a penetração num determinado mercado, menor potencial de crescimento o produto apresenta, servindo também de indicador da maturidade de um determinado mercado, o IBGE apurou que, entre 2009 e 2011, a taxa de penetração de moradias e produtos relacionados na vida do brasileiro em todas as regiões do país aumentou, o que indica saturação. Os domicílios já quitados representam 69,3% das moradias no país. Confirmando o prognóstico, os financiamentos imobiliários concedidos no primeiro semestre de 2014 aumentaram 7% na comparação com o mesmo período de 2013, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), bem abaixo do avanço de 34% registrado no primeiro semestre de 2013. Esses dados sinalizam que a expansão do crédito vem, de fato, desacelerando. No agregado, a previsão do Banco Central é que o ano feche com um crescimento de 12% no volume de crédito ante os 14,7% registrados no ano passado.

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Conforme diria Keynes, em sua obra pós-depressão de 1930, o “crédito bancário é o pavimento ao longo do qual a produção viaja”. Não só os empresários, mas também as famílias planejam o seu caminhar amparadas pelas possibilidades viabilizadas pelo crédito. Porém, quando cercados de incertezas, como inflação e juros elevados, o investimento e o consumo acabam sendo adiados e, em alguns casos, deixados à beira do caminho.
Fernanda F. C. Perobelli, Lucas Picardi, Beatriz Machado e Karina Belarmino

Conjuntura e Mercados Consultoria Jr.

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email: cmcjr.ufjf@gmail.com

 

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