Passou o Natal, passaram as férias, passou a Semana Santa. Nas diversas ocasiões, o brasileiro sentiu no bolso o peso do dólar mais caro e se perguntou até onde a moeda americana ainda iria.De dezembro a março, viagens ao exterior foram reprogramadas; o bacalhau importado da Noruega, que subiu 45%, foi trocado por peixe fresco no almoço da Páscoa. O mesmo ocorreu com frutas secas (alta de 35%), queijos, vinhos (15%) e azeites (9%). No limite, teve gente que desistiu de usufruir desses prazeres antes mesmo de começar. Afinal, quem precisa de viagens e iguarias? De ajuste em ajuste, a classe média se sentiu menos privilegiada.
Malabarismos à parte, é importante lembrar que há repasses cambiais não apenas em itens considerados ‘supérfluos’, mas também em itens essenciais, como o pão nosso de todo dia e em máquinas e equipamentos ligados à produção de todo tipo de bem numa economia. Uma moeda desvalorizada é efeito de uma economia pouco pujante.Apesar de o dólar ter subido também em relação a outras moedas (como peso mexicano e chileno, lira da Turquia e rand da África do Sul) por conta de uma expectativa de aumento dos juros da economia americana e de um maior vigor econômico por lá – que pode levar à redução do fluxo de capital para países emergentes – é na comparação com o real que o dólar apresenta uma de suas maiores altas: 22% em 2015, sendo 13% somente em março.
A elevada valorização do dólar por aqui é reflexo do receio de que o ajuste fiscal proposto pelo Governo, de R$ 66 bilhões, não se concretize, o que poderia levar o país a perder seu grau de investimento (chancela de bom lugar para se investir) e a uma fuga ainda maior da moeda estrangeira do país. Com menos dólar em circulação, o valor da moeda americana se eleva. A alta em março também decorre de instabilidades político-institucionais. Em momentos como esse, de extrema incerteza, a alta acaba estimulando mais demanda para especulação e a novas altas.
A despeito de ajudar momentaneamente as exportações e a indústria local – porque os produtos importados ficam mais caros do que os nacionais- um dólar descontrolado pressiona os preços de diversos itens utilizados também na produção interna quando não há nacionais de qualidade e custo similares; interfere em contratos e dívidas firmados em moeda estrangeira; retrai investimentos e, por fim, pressiona a inflação.E o pior ainda está por vir. Os efeitos da alta do dólar serão mais sentidos no final do ano e em 2016, pois há uma ligeira demora na transferência da moeda mais cara para novos contratos e novos preços de produtos e matérias-primas, em função da acomodação natural exercida pelos estoques.
Mas até quando o dólar ainda pode subir? Na medida em que o ambiente político, institucional e econômico melhorar, a alta do dólar pode ser controlada. A expectativa é que, tudo correndo bem, a moeda se estabilize ao redor de R$ 3 em 2016. Melhor que isso, nem tão cedo.
Antônio Sazuki, Beatriz Machado,
Karina Belarmino, Renan Guimaral
e Fernanda Perobelli
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