O ano de 2015 se inicia, e as perspectivas para a indústria brasileira são mais pessimistas que em relação aos anos anteriores, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O fraco desempenho e contribuição do setor industrial na economia brasileira em 2014 devem se manter pelo menos durante o primeiro semestre de 2015.
Em 2014, o setor industrial, que representa em torno de 20% do PIB a preços básicos, contribuiu negativamente para o desempenho da economia. No acumulado até o terceiro trimestre do ano, a pequena expansão da atividade da Agropecuária e dos Serviços, ambos de 0,9%, foram superadas pela retração de -1,4% da atividade industrial, gerando os parcos 0,2% de crescimento no PIB. Neste cenário pessimista destacaram-se a Indústria de Transformação e de Construção Civil, com contrações de -1,8% e -3,3%, respectivamente. Inevitavelmente, a forte queda na Construção Civil repercutiu na variação negativa da Formação Bruta de Capital Fixo (-8,5%), mesmo com a expansão do consumo das famílias (0,1%) e da Administração Pública (1,9%) e na margem da Balança Comercial (3,1%).
A queda na demanda interna da economia e o desaquecimento no setor industrial, ao afetar as expectativas de demanda e as taxas de retorno de investimento das firmas, confirmam os efeitos colaterais de desconfiança observados no final de 2014. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI), levantado pela CNI juntamente com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), chegou a 45,2 pontos em dezembro de 2014, 9,1 pontos abaixo do registrado no mesmo período de 2013, revelando a falta de confiança do empresário pelo nono mês consecutivo (índices abaixo de 50 são considerados pessimistas). Em consonância, a Sondagem Industrial de novembro de 2014, feita pela CNI, aponta que a expectativa de demanda do setor para dezembro recuou em 1,9 pontos contra novembro.
Diante das incertezas e de certas expectativas frustradas, as firmas decidem, fixam e adiantam contratos monetários a fim de não enfrentarem maiores prejuízos. Os expedientes comuns são a revisão do planejamento de produção e da folha de pagamento aos funcionários. Conforme a última Pesquisa Industrial Mensal Emprego e Salário (PIMES) do IBGE, em novembro de 2014, o total do pessoal ocupado assalariado na indústria mostrou variação negativa de 0,4% em relação ao mês anterior e de 3,1% no acumulado dos onze meses do ano. Na comparação com novembro de 2013, o emprego industrial mostrou queda de 4,7%, 38º resultado negativo consecutivo nesse tipo de confronto e o mais intenso desde outubro de 2009 (-5,4%).
Já a produção industrial mostrou queda de 0,7% no mês de novembro em relação a outubro. No confronto com igual mês do ano anterior, a indústria apontou redução de 5,8%, nona taxa negativa consecutiva nesse tipo de comparação e a mais intensa desde junho (-6,9%). Nesse balanço, chama atenção o setor automotivo, com uma redução de 15,3% da fabricação de carros, caminhões e ônibus em relação ao ano de 2013. De acordo com as contas nacionais, esse setor tem um multiplicador de produto em torno de 2,5, ou seja, uma variação de R$ 1 milhão na sua demanda final, tende a gerar, direta e indiretamente, R$ 2,5 milhões de recursos adicionais na economia brasileira. E quando ele para a economia sofre. Para os ainda otimistas, fatores como investimento em infraestrutura, políticas de inovação e desvalorização cambial, podem contribuir para rever o quadro. A CNI projeta uma expansão de 1% no PIB em 2015, com acréscimo de 1% no setor industrial, após queda de 1,5% em 2014. Espera-se que 2015, mesmo tendo começado mal, termine como um feliz ano novo.
Por Admir Betarelli, Carolina Assis, Breno Mendonça, Gabriele Ribeiro e Pedro Ventura.
Faculdade de Economia/UFJF – CMC Jr.
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