O trabalhador brasileiro que tinha recursos no FGTS no início dos anos 2000 teve a oportunidade de destinar 50% do saldo a fundos mútuos de privatização (FMP) criados especialmente para investir em ações de duas gigantes brasileiras: Petrobras (em 2000) e Vale (em 2002). Privatizada em 1997, a Vale quebrou recordes históricos de produção de minério de ferro para um segundo trimestre em 2014: entre abril e junho, a empresa produziu 79,4 milhões de toneladas do minério, alta de 12,6% em relação ao mesmo período de 2013. Já a Petrobras vive seu pior momento em mais de uma década. Desde a crise de 2008 e desconsiderando 2014, quando as eleições presidenciais abalaram o mercado acionário, as ações preferenciais da Petrobras caíram cerca de 48%, enquanto as da Vale tiveram queda de 25%. Já a dívida da Petrobras aumentou 400% em cinco anos de crise e hoje já supera o valor de mercado das ações. Outro indicador importante mede a lucratividade da empresa em relação ao valor investido pelos acionistas. Em 2013, enquanto a média mundial do setor petrolífero era de 15% de retorno sobre o capital investido, a Petrobras amargava 6,72%. Matéria publicada pelo jornal “Valor Econômico” na última terça-feira revela que os indicadores financeiros da companhia são comparáveis aos observados no final da década de 1990. Ou seja, 25 anos se passaram e a estatal não saiu do lugar. Ainda mais grave que a estagnação, ou talvez uns dos principais responsáveis por ela, são os escândalos de corrupção e ingerência envolvendo a alta cúpula da empresa.
Para rebater as críticas e tentar trazer confiança ao mercado, a Petrobras tem divulgado vários comunicados e fatos relevantes nos últimos meses, mas ainda permanece com as demonstrações financeiras do terceiro trimestre não publicadas. No último dia 18, a presidente da companhia, Graça Foster, revelou que a estatal não está pronta para apresentar os balanços contábeis do 3T2014 porque a auditoria responsável pelas contas, a PricewaterhouseCoopers, se recusou a assinar as demonstrações por não confiar nos dados financeiros apresentados. Para tentar conter a crise, a cúpula aprovou a criação de uma diretoria de Governança, Risco e Compliance, que tem a missão de combater fraudes e corrupção. Apesar da boa intenção, a efetividade da medida é percebida pelo mercado como nula, dados os desmandos observados na empresa desde que o caso da compra da refinaria de Pasadena foi divulgado. Em 2006, 50% das ações da refinaria americana foram adquiridos pela Petrobras por US$ 360 milhões. Um ano antes, 100% das ações da mesma refinaria haviam sido vendidos para a empresa belga Astra Oil por US$ 42,5 milhões. O grande ágio pago pelo Petrobras teve repercussão internacional e chamou atenção para o problema da “valoração justa”, colocando em cheque a integridade da direção da empresa. Desde então, a situação só piorou.
O resultado da má gestão da Petrobras afeta não apenas a empresa, seus funcionários, a economia brasileira, mas também o bolso do trabalhador comum, que optou por investir seu FGTS nas ações da companhia em 2000. Até 2013, os FMP-Petrobras renderam 301,63%, sem descontar a taxa de administração e o imposto de renda, contra 85,63% do FGTS. Já os FMP-Vale, iniciados em 2002, renderam 714,77%, contra 71,49% do FGTS. Parece bom, mas se a comparação for feita com a taxa de juros do CDI, que indexa as aplicações mais conservadoras de renda fixa, os resultados podem não ser tão animadores. Os FMP-Vale ainda ganham do CDI, que, desde 2002, rendeu 300,44%; mas os FMP-Petrobras perdem para a renda fixa, que se elevou 452,30% de 2000 até agora.
Apesar das evidências contra a empresa, o trabalhador brasileiro que queira migrar seus recursos do FMP-Petrobras para outras aplicações só poderá fazê-lo se tiver se tornado elegível a sacar o FGTS (se for demitido sem justa causa no período, por exemplo). Uma opção é migrar os recursos para um dos chamados fundos FGTS-Carteira Livre, que podem investir em quaisquer ações, diluindo o risco de aplicar em apenas uma ação. Itaú e Bradesco oferecem fundos desse tipo. Ao trabalhador brasileiro, um conselho: se a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, mude de lado antes que seja tarde demais.
Contribuíram Fernanda Finotti C. Perobelli, Idala Carvalho, Adryse Lima, Rachel Timotheo, Cássio Sá, Breno Vasconcelos, Matheus Sposito, Mateus Tavares e Graziela Souza.
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