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Quando menos pode ser mais

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A divulgação da queda de 0,6% no PIB do segundo trimestre, conjugada com a redução de 0,2% já observada no primeiro trimestre de 2014, coloca o Brasil em ‘recessão técnica’ (dois trimestres consecutivos de desaceleração econômica). O cenário negativo nos impele a buscar as razões por trás de tal quadro. Os primeiros fatores apontados como “culpados” costumam ser a burocracia, os impostos altos, a falta de investimento em infraestrutura. No entanto, existe um fator adicional quase sempre ignorado nas análises: a produtividade dos trabalhadores. Podemos considerar a produtividade como sendo o acréscimo observado no produto (PIB) devido ao fator trabalho, ou seja, o acréscimo na produção originado por cada trabalhador.

Quando nos detemos sobre o crescimento da massa de trabalhadores nos últimos dez anos (2003 a 2013), observamos que o fator trabalho cresceu a uma taxa de 2% a.a. segundo o Ipea. Esse dado é preocupante pois indica que o país está passando por uma mudança demográfica em que o aumento da população economicamente ativa se dá a taxas baixas. Anteriormente, mesmo que a produtividade dos trabalhadores não aumentasse, o crescimento populacional causava um impacto positivo no PIB. Então, quando havia um quadro de aceleração econômica, era possível responder com a contratação de mais trabalhadores. Mais recentemente, a taxa de desemprego caiu para níveis historicamente baixos e não há perspectiva de que haja um crescimento populacional relevante. Com isso, passamos a depender quase que exclusivamente de aumentos na produtividade para observar crescimento econômico.

Apesar disso, uma parcela não desprezível dos empregos criados na economia brasileira recentemente ocorreu em setores caracterizados por baixa produtividade, como o setor de serviços em geral. Excluindo os serviços de informação, intermediação e atividade imobiliária e aluguéis, o setor de serviços contribuiu para uma desaceleração da produtividade agregada da mão de obra no Brasil em 2012, o que pode ajudar a explicar o atual momento de baixo crescimento econômico. Há muita gente trabalhando, o que não quer dizer que esteja havendo alta produção. Se a população continuar crescendo à taxa de 0,7% a.a. nos próximos dez anos, necessitaremos que a produtividade do trabalho cresça a 2% a.a. para termos um crescimento do PIB em torno de 3% a.a.

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O Brasil caiu oito postos no ranking de produtividade 2013-2014 do Fórum Econômico Mundial, ocupando atualmente o 56º lugar. Estamos atrás do Chile (34º), da Costa Rica (54º) e do México (55º). Mas por que isso ocorre? Quais são os fatores determinantes da produtividade de uma economia? Dentre os principais estão a escolaridade dos trabalhadores, a baixa tributação e burocracia, a infraestrutura e o investimento em inovação e tecnologia. O primeiro e o último fator merecem atenção. Na última década, tivemos um aumento de dois anos na média de estudo dos trabalhadores formais. Porém, a falta de sintonia entre o conteúdo estudado e a necessidade do mercado faz com que profissionais formados, teoricamente competentes e capacitados para exercerem suas funções, necessitem de ainda mais treinamento quando chegam nas empresas. Além do investimento em infraestrutura, há que se ter investimento de qualidade em capital humano, capaz de gerar inovação e avanço tecnológico. Sem tal investimento, mesmo que estejamos em posição de “pleno emprego”, não teremos mais produção. Para alavancar nossa economia, precisamos não de mais pessoas, mas de pessoas mais qualificadas.

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Wilson Rotatori, Alysson Vasconcelos, Beatriz Machado, Igor Reis, Lucas Picardi e Matheus Dilon

Conjuntura e Mercados Consultoria Jr

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Faculdade de Economia/UFJF  Email: cmcjr.ufjf@gmail.com

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