A pandemia do coronavírus é indiscutivelmente um ponto de inflexão na forma como a sociedade enxerga as questões sanitárias, sociais e econômicas. Os impactos das crises sanitária e econômica ainda estão inaptos para a classificação de transitórios ou permanentes, isto é, não sabemos se as mudanças provocadas pela pandemia serão de fato o “novo normal”. Em relação ao mercado de trabalho, alguns economistas acreditam que a ampliação do uso do home-office foi precocemente adiantada pelas medidas de distanciamento social, ao passo que outros enxergam uma provável volta do trabalho presencial após a vacinação em massa, cenário igual ao de pré-pandemia. De qualquer forma, muitos brasileiros ainda não conhecem a “cara” do home-office nem seus números e é justamente esse o tema da coluna desta semana.
Em maio de 2020, dois meses após o estabelecimento das medidas de isolamento social, existiam cerca de 84,40 milhões de brasileiros ocupados, número que representa o total de pessoas com uma ocupação entre a força de trabalho do Brasil. Desses 84 milhões, quase 15 milhões haviam sido afastados do ofício devido a motivos intimamente relacionados ao distanciamento social, ao passo que 3 milhões foram afastados por outras razões. Em relação aos não afastados, que formam um grupo de 65 milhões de brasileiros, apenas 8,7 milhões estavam trabalhando de maneira remota (home-office), mostrando que o trabalho remoto não pode ser considerado uma realidade nacional, representativa da situação de um típico trabalhador brasileiro.
Passados seis meses, quando houve um afrouxamento do isolamento social e um gradativo retorno à antiga normalidade, alguns números citados no parágrafo anterior se modificaram significativamente, conforme dados do Ipea: quanto ao total da população ocupada, o número de 84,40 milhões teve um pequeníssimo salto de 200 mil pessoas, passando para 84,60 milhões. No entanto, 15 milhões que, em maio, tinham uma ocupação, mas estavam afastados, retornaram ao trabalho, levando ao total de 80,22 milhões de brasileiros ocupados não afastados em novembro de 2020, sendo que cerca de 7 milhões do total de ocupados estavam de home-office. Assim, podemos afirmar que menos pessoas estavam em situação de vulnerabilidade em novembro. A respeito de vulnerabilidade social, há um grupo vulnerável que alcançou números recordes desde março de 2020: os brasileiros que estão sem renda de trabalho, ou seja, os desempregados. Atualmente, a taxa de desemprego do maior país latino é igual a 14,1% para o trimestre encerrado em novembro. Estimam-se que sejam 14 milhões de indivíduos, afetando principalmente profissões que exigem menos qualificação.
Por fim, o home-office foi a saída que muitas empresas particulares e públicas adotaram para manter suas atividades, no entanto, não é a regra para a atual conjuntura. A coluna desta semana buscou expor a grande disparidade que existe atualmente no mercado de trabalho brasileiro. Além disso, é importante citar que muitos problemas atuais não ocorrem
necessariamente por causa da pandemia. Houve, por exemplo, o realce da baixa formação profissional e educacional de muitas pessoas. Desse modo, o governo precisa firmar o compromisso de investir em educação e qualificação profissional para a população, para que no futuro, estejamos menos vulneráveis a novas crises, sejam elas econômicas ou
sanitárias.
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