No balanço do ano, os altos e baixos da economia
Para alguns segmentos, a economia encerra 2019 melhor que o esperado. Venda de veículos, por exemplo, deve crescer 3%; eletrônicos (5%), papelão ondulado (4%), construção civil (2%). São índices de segmentos demandados e demandantes de outros segmentos. Mas a ociosidade na indústria, em geral, continua expressiva. Em serviços, o crescimento ficará em torno de 1%; comércio, 4,5%; e o agronegócio vai bem, obrigado. Apesar da ligeira melhora no quadro febril, o crescimento do PIB em 2019 ficará na faixa de 09% a 1,2”%, segundo os “especialistas”. Muito abaixo da média de 4,5% ao ano dos oito anos do governo Lula.
Enquanto a inflação medida pelo IPCA deve ficar abaixo de 4% e a taxa de juros SELIC fecha o ano em 4,5%, bons sinais, há indicadores preocupantes: o desemprego com quase 13 milhões de desempregados (12% da população economicamente ativa) preocupa; o déficit em transações correntes supera US$ 45 bilhões e os investimentos, públicos e privados, decepcionam. Debater o futuro do emprego e o emprego do futuro, em decorrência da economia digital, é fundamental. Focar em inovação e produtividade é essencial para a indústria nacional não se desgarrar ainda mais de seus concorrentes.
O Ministro da Economia sabe que não é fácil combater déficits fiscais, porque os gestores públicos da União, Estados e Municípios têm um caso de amor irresistível com gastanças. Reduzir despesas é quase impossível. Aumentar a tributação é impossível, porque já batemos no teto em 2018 (35% do PIB). Mas é inevitável debater-se formas de capturar, tributariamente, a economia digital, o intangível, a “venda” de informações do mundo digital.
E as reformas? Fazer reforma trabalhista e previdenciária é mais fácil, porque se está a lidar com “vítimas” de menor poder político. Mas as reformas – tributária e política – afetam quem tem poder – político e econômico -– e aí tudo fica mais difícil.
O ano, peculiar, será mais bem avaliado no futuro. Primeiro ano de novo governo central conservador nos costumes, reacionário na política e liberal na economia. No Legislativo, CD e SF assumiram – para o bem e para o mal – protagonismos nunca vistos. Para completar os três poderes, o Judiciário já não fala só nos autos, e assume dispensável papel político e midiático, com riscos de vulgarização.
(Roberto Nogueira Ferreira é presidente de RN Consultores (Brasília), ex-secretário da Fazenda em Juiz de Fora e leitor convidado)