JF Por Aí…
Fala Quem Sabe
Saudade dos carnavais de outrora
Iniciei minha trajetória carnavalesca em 1974, no bloco caricato Domésticas de Luxo. Por mais de 20 anos me dediquei e prestigiei a folia de Momo, com fantasias de luxo, confeccionadas no Rio de Janeiro, por um campeoníssimo carnavalesco da Beija-Flor. Desfilava para minha escola de coração, a Real Grandeza e também para outras agremiações do segundo grupo, mas com o mesmo amor e respeito, mostrando luxo e beleza nunca vistos.
Sem dúvida, o melhor carnaval de Juiz de Fora foi na gestão do prefeito Mello Reis, com o tema “Adeus Avenida”, quando a Prefeitura convidou artistas consagrados para enaltecer, ainda mais, o evento. Também desfilei no carnaval de cidades vizinhas e participei de concursos de fantasias em Belo Horizonte, Aiuruoca, Caxambu, entre outras. Tenho uma recordação muito boa daquela época em que fui feliz e aplaudido nos desfiles. Sempre tive muita sorte, pois nunca peguei chuva na avenida. Tenho saudade, pois muitos amigos já faleceram ou não desfilam mais por causa da idade.
Hoje, os tempos mudaram e os blocos tomaram as ruas da cidade. Muitos preferem curtir a festa nas praias ou nos carnavais da Bahia e do Rio. Aquele tempo não voltará jamais e um dos poucos carnavalescos que ainda imperam é o querido José Carlos (Zé Kodak) Passos, um baluarte que comanda toda a alegria da tradicional Banda Daki, da qual também já participei.
Para quem vai curtir o carnaval, deixo aqui meus votos de feliz e saudável folia.
(Júlio Zanini é produtor de moda e leitor convidado)
Professor Murilio de Avellar Hingel
Uma vida dedicada à educação
Natural de Petrópolis (RJ), mas juiz-forano desde os dois anos de idade, o professor Murílio de Avellar Hingel (84) iniciou seus estudos no Jardim de Infância Mariano Procópio, passando depois pelo Colégio Santos Anjos, Educandário Santa Rita de Cássia, Academia de Comércio até se formar em Geografia e História na antiga Faculdade de Filosofia e Letras (FaFiLe). Sua vida profissional é longa e diversificada, compreendendo, acima de tudo, as atribuições de professor em diferentes níveis e graus de ensino, incluindo funções de diretor de escolas (Escola da Comunidade Euclides da Cunha, Ginásio Coronel Felício Lima – em Benfica, FaFiLe , Faculdade de Educação, Colégio de Aplicação João XXIII – do qual foi fundador).
Na vida pública, foi secretário de Educação e Cultura de Juiz de Fora, assessor técnico do Ministério da Educação, Ministro da Educação e do Desporto e depois Secretário de Estado da Educação de Minas Gerais, Conselheiro de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação. Murílio Hingel faz questão de destacar as funções executivas em nível municipal, federal e estadual, “sempre ao lado do prefeito, presidente e governador Itamar Franco, o que muito me honrou”. Fora do setor educacional, foi diretor do Ipplan na Prefeitura de Juiz de Fora. Politicamente sempre esteve vinculado ao presidente Itamar Franco e ao prefeito Tarcísio Delgado, além de dois anos colaborando com o prefeito Agostinho Pestana.
CR- Com sua experiência nas esferas municipal, estadual e federal, qual é o maior problema da educação no Brasil?
Existe uma ampla e rica literatura brasileira, com livros de conceituados autores, que desenvolvem opiniões e considerações de alto nível e inquestionável competência. Em síntese, de cunho pessoal, enumero alguns pontos que considero fundamentais:
1. Necessidade de conceituação de um Sistema Brasileiro de Educação, com definição de seus fins e objetivos nacionais (valores).
2. Estabelecimento de mecanismos de articulação/ integração entre os níveis de governo na Federação- União, Distrito Federal, Estados e Municípios, com definição clara de atribuições e competências (normas e fatos).
3.Entendimento da Educação em sua totalidade, compreendendo níveis, graus, modalidades, desde a educação infantil à pós-graduação, com respectivas responsabilidades e procedimentos.
4.Definição dos referenciais da Família e do Estado Nacional em relação à Educação Pública, Comunitária e articular, reconhecendo a primazia da família e o caráter concessionário do Estado, mediante avaliação, controle e acompanhamento sobre a iniciativa particular.
5. Aplicação e utilização apropriadas de métodos, técnicas e recursos pedagógicos e inovadores no processo educativo.
6.Valorização do pessoal do magistério- professores e demais profissionais – do ponto de vista pessoal e remuneratório.
A educação pública e a particular. Quais as diferenças?
A educação pública é responsabilidade total do Estado, devendo destacar-se pela qualidade, pois essa é a educação para todos. A educação particular é oferecida por instituições e organizações não-governamentais, mas deve ser considerada como uma concessão , sujeitando-se aos valores, normas e fatos estabelecidos no Sistema Nacional da Educação. Portanto, a educação particular deve sujeitar-se à avaliação, ao controle e à fiscalização de órgãos públicos dos três níveis de governo, conforme as diferentes competências e atribuições.
O sistema de cotas nas universidades. Como o senhor vê?
Sou favorável ao sistema de cotas, o mais abrangente possível, com o objetivo maior de estabelecer igualdade de oportunidades para todos, considerando as desigualdades sociais, que, no Brasil, se destacam no corpo de nossa sociedade. No particular – desigualdade social – o Brasil é um dos “líderes” mundiais, dada a subsistência de privilégios incontáveis.
Itamar Franco – o homem e o político. Defina.
O Presidente Itamar Franco não é fácil de ser definido em poucas palavras, pois se trata de personalidade complexa e extremamente rica em suas facetas….Algumas de suas qualidades evidentes destacam-se, especialmente no contexto atual da política nacional: ética, honestidade, patriotismo, nacionalismo, clarividência, autoridade – enfim, um visionário de caráter brasileiro.
Como ministro, quais foram suas contribuições para a educação?
Fui um privilegiado por minha formação e exercício de funções públicas e privadas diversificadas, que me permitiram uma visão ampla dos problemas educacionais brasileiros. Penso ter sido favorecido pelas oportunidades e desafios que se apresentaram na sala de aula, em função executiva e assessoramento, conhecimento das realidades múltiplas de um País imenso que compreende diferentes realidades – tudo isso apoiado em dedicação, diálogo, planejamento, interpretação das pesquisas e levantamentos, disponibilidade e equilíbrio.
E, é claro, sempre apoiado e assessorado por equipes dedicadas e comprometidas – nos diferentes níveis de atuação. Colocaria como decisiva nos sucessos alcançados o princípio da presença onde se mostrou necessária e comprometida com a melhor solução dos problemas enfrentados.
O Brasil tem jeito?
Sim, porque ao longo de uma existência prolongada no tempo – 84 para 85 anos – assisti, acompanhei e participei de muitos momentos de crise nacional, que acabaram por ser superadas pelos acontecimentos. Desde o fim da ditadura do Estado Novo – queda de Getúlio Vargas em 1945- ao afastamento e em seguida o impedimento da Presidente Dilma Roussef, em 2016. Ora, todas as crises, menores ou maiores, foram superadas por diferentes medidas. Mas não há dúvida que a crise atual é muito grave, com índices preocupantes de desemprego, queda do poder aquisitivo da população, ameaça de deflação ou estagflação, descontrole fiscal com “déficit” imenso do governo entre receita e despesa, ameaça de medidas impopulares, algumas delas desnacionalizantes – como se anuncia, em setores essenciais, como Energia (Eletrobrás,Petrobras) – sem retorno – pressão financeira sobre as Universidades Públicas – despesas de custeio ,investimentos – “reforma trabalhista”, “reforma da Previdência Social” (anunciada mas não explicitada),etc. Portanto, a superação dessa crise, que envolve o mundo político e outros setores da vida Nacional – perda de confiabilidade, corrupção em diferentes setores, problemas de moralidade e ética, etc…- exige medidas tais que o atual governo não é capaz de adotar, por falta absoluta de condições sociais, políticas e econômicas.
Todavia, como educador, penso que não se pode deixar de lado a esperança em um ano eleitoral como 2018. Essa esperança, entretanto, tem de ser alimentada por uma reação organizada, forte, planejada, alimentada por poderoso sentimento de brasilidade ,isto é, de nacionalidade. Os pólos dessa reação têm de ser encontrados no povo brasileiro e precisam destacar as questões fundamentais – os problemas sociais, basicamente – emprego, educação, saúde e segurança. Tal é a minha opinião, aqui manifestada com toda a sinceridade e patriotismo.
Em termos de remuneração, o senhor acredita num futuro promissor para o magistério?
Acredito, porque justo e necessário. Vale registrar um momento específico do Governo do Presidente Itamar Franco. Em 1993 iniciaram – se os estudos e a discussão sobre o Plano Nacional de Educação para Todos (1993/2002), com o desenvolvimento de todas as forças e energias dos responsáveis pela educação – famílias , comunidades, graus e níveis da Educação (do Básico ao Superior), modalidades (Pública , Particular, Comunitária), Municípios, Estados, Distrito Federal e União, todos sob o comando e a orientação do MEC e suas Delegacias Regionais de Educação, órgãos municipais de educação, Secretarias Estaduais e do Distrito Federal,Universidades, Escolas Técnicas e Agrotécnicas Federais, instituições de educação infantil, educação de 1º grau, educação média, educação especial, educação comunitária, escolas-família agrícola, Países envolvidos no Programa da UNESCO de Educação para Todos ( Bangladesh, BRASIL, China, Egito, Índia, Indonésia, México, Nigéria, Paquistão).
Todo esse movimento nacional, sob a orientação da Secretaria de Educação Fundamental (MEC), confluiu para a realização a 1ª Conferência Nacional de Educação, em 1994, com a participação dos países indicados, que representavam mais da metade da população mundial e concentravam 75% dos analfabetos – por isso selecionados pela UNESCO/UNICEF/ Banco Mundial – para um esforço concentrado de ações políticas/ administrativas/pedagógicas, mais a participação de delegações dos Países de Fala Portuguesa.
Entre as decisões aprovadas nessa Conferência temos a aprovação do “Pacto pela Valorização do Magistério e Qualidade da Educação”, prevendo a fixação de um piso salarial, firmado no Palácio do Planalto no Governo do Presidente Itamar Franco (1994) e sancionado no governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lei nº 11 738 de 16 de julho de 2008).
Ping Pong
Um livro: “Um Estudo de História” Arnold J. Toynbee
Um escritor: Honoré de Balzac
Melhor ator: Roberto de Niro
Melhor atriz: Isabelle Huppert
Cantor: Chico Buarque de Holanda
Cantora: Elis Regina
Filme: Les Enfants du Paradis (no Brasil:”O Boulevard do Crime)
Prato predileto: frango com quiabo
Momento mágico: 1ª Conferência Nacional de Educação (1994)
Time de futebol: Rio – Fluminense; em Juiz de Fora –Sport Clube
Um lugar em Juiz de Fora: Granja Pasárgada /Caeté
Viagem inesquecível: Índia (Norte/Sul)
Um sonho: Sociedade brasileira mais justa e solidária
Artista Plástico: Rembrandt
Uma frase : Educação de qualidade para todos!