Nosso país carrega em seu nome a referência do primeiro produto explorado de nossos bosques. Desde então, é mais de meio milênio de uma triste sina que, apesar de muita resistência e re-existência, agrava-se. O ano inicia com o anúncio da extinção do Ministério do Meio Ambiente, o qual, historicamente é o que menos recebe recurso (prioridade) do Estado. O ultrapassado discurso de que o meio ambiente é um entrave ao “desenvolvimento” ressurge do porão sombrio. A força do agronegócio, que nada tem de “tech”, não produz alimento e nem gera emprego como defende, apenas se converte na principal atividade econômica que pilha nossa biodiversidade, define os rumos do país. Em tempo recorde, 169 novos agrotóxicos são aprovados para temperar nossa janta, pois consumir sete litros por ano é pouco… O avanço do capital sobre a biodiversidade, tornando algo que é público em privado, encontra porto firme. O povo perde sua voz nas decisões nacionais. Oito antigos ministros manifestam-se contra o desmonte da política ambiental. Terras indígenas e quilombolas pilhadas e ameaçadas e unidades de conservação sob risco de revisão. Se não importa quem é “Chico Mendes”, não importa quem são nossos camponeses, quilombolas, povos tradicionais e povos indígenas. Teriam muitas terras, mas não trabalham. Rio Doce e São Francisco, “rejeitados”, assistem à flexibilização das licenças ambientais, do código florestal, do código de mineração. Fiscalização engessada. Presidente eleito, fiscal exonerado. “Nessa terra tudo dá”, só não contavam com as “saúvas”. Mas as saúvas têm nome, projeto, capital e poder, e conhecê-los é o desafio para o Dia do Meio Ambiente. Questiono-me se há o que comemorar. A onça deixa saudades e o compromisso de luta.
(Gustavo Soldati é diretor do Jardim Botânico, professor da UFJF e leitor convidado)