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Começaria tudo outra vez!

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Sexta-feira, 31 de julho de 2020. Hoje é o meu último dia de trabalho na PJF, no Departamento de Saúde do Idoso da Secretaria Municipal de Saúde da nossa querida cidade. Situado bem no Centro, à Rua Batista de Oliveira 943. Alugado ao município, o imóvel já está vendido à terceiros. Até meados do ano que vem, ele terá um outro destino para a sua ocupação.

Especulações estão soltas. O certo mesmo é que o Programa de Saúde da Prefeitura vai sair de onde está. Por força dos anos somados, eu saio antes. E antes desse lugar físico ir ao chão e morrer, eu desejo reavivá-lo para sempre na minha memória. Levarei lembranças das pessoas idosas com quem convivi, bem como dos colegas servidores que dividiram comigo o seu cotidiano. Do quintal (mágico) da casa. Qual quintal que não é mágico?

Passando pela Rua Batista e olhando paraa casa, não se imagina que ela possui um grande quintal. Desses que praticamente não existem mais, ainda mais no Centro da cidade. Pois ele está lá. Cheio de várias recordações para os familiares que moraram nessa casa. Cada árvore deve ter uma história a ser contada. No tempo em que fiquei nela, desde 2005, tive a companhia dos miquinhos, animais silvestres que moram nessas árvores. Nômades que são. Logo pela manhã, nos fios dos postes, lá estão eles, saudando os transeuntes que vão para o trabalho e os poucos moradores, acordados, entre eles, o pai de um nosso amigo, que todo santo dia, levanta cedo para buscar o pão na padaria da esquina para levar para a família tomar o seu café. Bem-te-vis que cantam pousados na antena de TV do prédio vizinho. Um ambiente de casa favorece o atendimento ao público externo, que se deseja que se sinta bem, ainda mais sendo atendimento de saúde.

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O tempo passa muito rápido! Esse é o lamento de todo mundo, diante de uma nova fase de vida. É o que está acontecendo comigo nesse momento. Prestes a me desligar dessa rotina de acordar muito cedo para não comprometer a biometria diária, vai dando um vazio na alma. Ao mesmo tempo, eu sinto que eu cumpri com o meu dever. Vem também uma angústia silenciosa e ardente diante do que virá pela frente. Ultimamente, tenho compartilhado publicamente esse meu período de vida funcional a vários cantos. Até ser questionado em casa, por tanto que eu tenho falado da minha aposentadoria. No trabalho, brinco com os colegas, ao contar nos dedos das mãos, quando afirmo sobre quantos dias faltam. Muita ansiedade.

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É porque não quero me sentir só daqui para a frente. Serei esquecido rapidamente. É verdade. Isso não é o principal motivo do meu desassossego. Não queria, de jeito nenhum, é ficar à margem de uma história de uma construção coletiva e pública de lutas sociais que eu participei por melhores dias para a nossavelhice, na terra de tantos artistas, músicos, pintores, escritores imortais que amam essa Juiz de Fora. O que eu fiz de trabalho social no serviço público municipal foi por amor. Foi por paixão. A minha motivação, dia a dia, na construção da minha carreira profissional no trabalho público com as pessoas idosas foi a fé e a esperança de que podemos construir uma nova sociabilidade, uma nova forma de relações sociais; do que tenho dito; de construir uma cidade para todas as idades.

É com essa mesma fé e esperança que vou seguir em frente. Agora mais velho, certo de que “um galo só não tece a madrugada” (João Cabral). Há muito o que fazer pela e com a população idosa de nossa cidade. Principalmente dirigir serviços públicos sociais e de saúde para as pessoas idosas com comprometimento de suas funções cognitivas.

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A cidade precisa ter um envolvimento com as pessoas idosas que estão nas Instituições de Longa Permanência para Idosos. A formação qualificada dos cuidadores de pessoas idosas se faz urgente. A cidade precisa ter também um cadastro atualizado desses importantes e cada vez mais necessários profissionais para a disposição das famílias. A demanda só cresce para esses serviços de cuidados aos idosos. A cidade tem quase cem mil pessoas com a idade de 60 anos ou mais. Quem vai cuidar das pessoas idosas dependentes? Teremos profissionais habilitados para a assistência geriátrica-gerontológica na cidade? Os desafios estão colocados.

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