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Tempo, tempo, tempo: faz um acordo comigo!

pitico fernando

“Casos como o dessa senhora do Grajaú, infelizmente, são vistos de forma recorrente no Brasil e, às vezes, na nossa cidade, denotando a necessidade de desenvolvimento, cada vez mais, de políticas públicas para pessoas idosas, principalmente, no que diz respeito ao apoio familiar”, pontua Pitico

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Caetano Veloso, octogenário, mais ativo do que nunca, em sua poderosa e linda, “Oração ao Tempo”, de 1979, nos escreve assim esse pequeno trecho da canção: “És um senhor tão bonito quanto a cara do meu filho. Tempo, tempo, tempo, vou te fazer um pedido, entro num acordo contigo.” Esse entrar em acordo com o tempo é que é o xis da questão. Quantos de nós, e somos muitos, que brigamos constantemente com a passagem do tempo em nós. O dia em que percebermos que essa luta é inglória, e que só nos afasta de nós mesmos, sairemos vencedores. Claro que é preciso muita reflexão, é preciso aprender perder, e a ter essa palavra da moda – resiliência. Por vivência pessoal, quanto mais eu aprendo com as minhas frustrações e perdas, mais eu levanto e sigo mais forte. Essa realidade inexorável do nosso envelhecimento com o avanço da idade nos traz muitas perguntas necessárias para a nossa caminhada. Por exemplo, uma delas: o que temos feito com o nosso tempo?

Será que, verdadeiramente, temos tido tempo para nós mesmos? Percebo que existe uma cultura colocada de que temos que estar o tempo todo disponíveis para o atendimento aos outros. Como se não tivéssemos desejos e vontades próprias para serem atendidas. Ter tempo para nós mesmos não significa de jeito nenhum ser egoísta ou não ter solidariedade ou compaixão com os outros. Precisamos reconhecer primeiro quais são as nossas necessidades, temos fome de quê? E, depois, nos darmos aos outros: em casa, no trabalho, na amizade e no lazer.

Feito esse acordo com o tempo, tarefa que é para a vida toda, penso que é fundamental o preparo para a entrada da noite e a chegada de um novo dia. Olhando para dentro da nossa alma vamos seguindo. O tempo só tem valor se for bem vivido por nós, ou melhor, se for experimentado em nós. E essa vivência acumulada, com várias cicatrizes e possibilidades devem ser colocadas à disposição da sociedade, da comunidade. Todo o acúmulo de vida que a passagem do tempo pode nos trazer é uma conquista da coletividade. Eu mesmo reconheço que me tornei ou o que estou construindo em mim é obra de muitas mãos, a começar pelos meus pais, minhas amigas e meus amigos, meus livros e minhas memórias de tudo aquilo que os olhos de dentro podem alcançar.

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Como aproveitar melhor o tempo? É uma outra questão que se coloca. Aqui também prevalece uma ótica muito seca e mercantil do tempo, como algo, que para ser reconhecido e aprovado tem que ser medido, quantificado, precificado e revestido em mercadoria. Tem-se a ocupação do tempo como algo que dê lucro! Por isso, via de regra, o tempo das pessoas mais velhas é desprezível e por tabela, a vida delas também, já que não servem, na linguagem do capital, para mais nada ou de pouco valem. Tenho aprendido muito a perder tempo comigo e com as pessoas que eu amo na ociosidade das horas. Me vem à memória nesse momento, de quando menino na minha cidade natal, ouvia de algumas tias em tom de reprovação: fulano só sabe jogar conversa fora. Que inveja, meu Deus!

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A Coluna de hoje é dedicada ao amigo Márcio: para sempre, Cândido! Um grande contador de histórias. Muito obrigado.

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