De uma maneira muito simples, começo essa Coluna escrevendo sobre dois comportamentos sociais muito presentes no nosso relacionamento diário com as pessoas. Um deles é o etarismo, que é o preconceito, a desvalorização das pessoas pela idade que elas tem. É valer menos, como ser humano, porque você tem muita idade, é uma pessoa idosa, mesmo considerando a conquista da nossa longevidade, uma das maiores revoluções mundiais, nesse universo de 8 bilhões de pessoas que habitam o planeta Terra. O outro comportamento social existente entre nós, é o racismo, que vem de longa data, componente da nossa estrutura social, econômica e política. Expresso, de um modo, de quem não entende da pauta, que é a desconsideração da pessoa – invisibilidade – pelo seu corpo preto.
E todos nós envelhecemos. Pretos, pretas, brancos e brancas. Para essa caminhada, o sarrafo é mais em cima. Porque envelhecer dignamente numa sociedade e num país que não tem uma educação favorável a essa realidade da nossa vida, não é nada fácil. É para os fortes. Eu diria, eu digo que é principalmente para as fortes: é para as mulheres, que, de um modo geral, “pegam o touro à unha”. É o caso, por exemplo da minha mãe. Que deixou os seus, em busca de oferecer futuro aos dois filhos. E conseguiu. Graças à Deus. Ombreada à coragem e à determinação do meu/nosso pai. Certamente, acredito que temos dezenas, centenas e milhares de “Donas Lúcias” por esse país afora.Mas, e as que são negras: qual é a contribuição da sociedade para a comemoração de mais um aniversário de vida? Que presentes ganharam ou ganham?
Envelhecer com a garantia de políticas públicas sociais e de saúde tem que ser uma luta constante de toda comunidade para atender às muitas pessoas idosas. Notadamente para as mulheres, que sabe lá, Deus, porque vivem mais que os homens? Nesse quadro ainda de exploração do seu trabalho profissional e de sua intimidade tanto dentro como fora do espaço doméstico.
Envelhecer leva todo mundo para o campo real da vida, da nossa existência. Com o que temos e com o que somos de humanos. E por falar nisso, é fundamental humanizar esse processo da nossa vida, que é o envelhecimento. Parar de negá-lo. Instalar o quanto antes no nosso país e na nossa cidade, uma educação social para a velhice.
Esse mês de novembro que chega ao fim, além de trazer à nossa atenção, o cuidado com a saúde masculina na prevenção ao câncer de próstata, é também, o mês direcionado para as reflexões e mudanças de atitudes e olhares sobre o racismo presente em nossa sociedade. Motivado pelo amigo – e leitor da Coluna – (Bento), trouxe nesse espaço de hoje, algumas linhas sobre mais uma faceta do envelhecimento, com destaque para a velhice da pessoa negra, predominantemente, a mulher negra. Percebo que diante do trabalho profissional realizado na cidade, que envelhecer é quase que, se não é a mesma coisa, está bem perto de ser: ficar pobre – empobrecer.
É a vivência, de muitas pessoas, de um modo amplo e geral, de abandono social, comunitário e público. Em se tratando de uma pessoa idosa negra, mulher, as portas estão fechadas para o acesso, por direito, a uma vida plena e cidadã. Temos muito que caminhar. Mais e mais novembros serão necessários para o nascimento iluminado de cada manhã. A luta continua.