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O chamado de Jeremias!

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Vou iniciar essa carta de hoje escrevendo que o nosso tempo está precisando de profetas. Dos verdadeiros anunciantes de boas novas, não os falsos profetas, que vêm de longe. Já estamos fartos deles. Nesse rebanho em que me encontro, reconheço que precisamos de um pastor.

De um bom pastor. A sensação real de não se ter um guia é muito ruim. À minha maneira e pela minha grande necessidade, invento guias, pastores e profetas para a travessia do caminho. Não está sendo fácil. A cultura brasileira fica mais pobre com a saída de cena de dois grandes mágicos da minha adolescência. Paulo José, com o seu “Shazan”, junto ao Xerife – Flavio Migliaccio -, já não tocam mais a camicleta. Sem coragem, Tarcísio Meira, me (nos) deixa com o horário antigo das 20 horas órfão de um par romântico. Nossos mitos caminham. Sem esses dois, fica distante, quase que apagada, a luz da memória dos tempos em que eu comia pastel de banana na venda do seu Zéjão, que fazia esquina no beco do treme-treme, na Rua Bernardo Mascarenhas, no Bairro Fábrica. Em que os venerava na frente da televisão do vizinho. Ainda sem entrar no mundo adulto, a tv enchia nossa alma de ilusão e de aventuras. Nossa vida era tocada pelo que víamos nela e por ela. Tempos pueris, românticos e leves.

É com essa leveza, com esse desejo de pedir socorro, que eu recorro ao profeta Jeremias. Aquele que lutou para desmascarar os que falavam em nome de Deus na morte de pessoas; na indiferença à dor do semelhante; que se vestem de cinismo e indiferença diante das mazelas dos mais humildes. Virá um tempo em que deixaremos no chão os falsos mensageiros que se intitulam poderosos e rudes, e são mesmos, que não mudam de roupa para seduzir o povo sem esperança e faminto com suas mentiras e seus enganos. Basta. Edificaremos um novo tempo, onde as crianças e os adolescentes não conhecerão o Cerespe. Cola? Só para os trabalhos/deveres escolares. Craque? Só jogador de futebol. Eu tô falando isso, porque eu vi um adolescente, dias desses, no centro da cidade que participou de um programa municipal, que me deu muita raiva e me povoou a cabeça e o coração com muitas reflexões e perguntas. Do tipo: onde foi que nós erramos como sociedade? Que sociedade é essa que larga suas crianças e jovens sem futuro e sem destino? Que não pavimenta as estradas da vida para o futuro de seus filhos e filhas? O que esperar para as pessoas idosas diante do descaso com a infância e adolescência? Não tem jeito. Temos que construir um outro país. Urgente.

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E é pela participação política que o faremos. Seremos profetas de nós mesmos, de uma nova terra prometida por nós e para nós. Diferentemente do grande Profeta Jeremias que resistiu pela pouca coragem em aceitar o chamado do Senhor para a sua vida; para esses tempos de morte da humanidade, de nossos ídolos e perseguição aos nossos verdadeiros pastores, é preciso revigorar o Profeta Jeremias em nós para não fugirmos da luta. Do combate pelo bem, pelo amor, pela compaixão humana e pela solidariedade intergeracional.

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Como bem disse o Senhor à Jeremias, a nosso favor…e por eu tocar em sua boca e colocar as minhas palavras em sua boca, a sua profecia será tão poderosa e tão confrontadora…que o que tiver que arrancar, você vai arrancar; o que tiver que derrubar, você vai derrubar; o que tiver que destruir, você vai destruir; o que tiver que arruinar, você vai arruinar; o que tiver que plantar, você vai plantar e o que tiver que construir, você vai construir.

Somos todos Jeremias!

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