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A longevidade na MPB

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Acredito que, como muitos de vocês, desde cedo fizeram e cresceram em amizades em torno de um desejo compartilhado. Eu também tive o meu “clube da esquina”. Uma reunião de amigas e amigos que viveram ou vivem em torno de uma proposta comum. No caso deles – jovens adultos, moradores na esquina das ruas Paraisópolis e Divinópolis, no bairro de Santa Teresa , em BH – um grupo de músicos, compositores e letristas, na década de 60, fizeram da música, a razão de ser de suas vidas através da celebração da amizade. Liderados por gente da sensibilidade e genialidade, entre outros artistas, de Milton Nascimento, Toninho Horta, Wagner Tiso, Lô Borges, Beto Guedes e Márcio Borges. Em março desse ano, o Clube completou e comemorou os seus 50 anos de vida.

Talvez seja a partir desse movimento dos “Mineiros da Capital”, mesmo sem perceber, sem ter a inspiração deles e sem ter essa consciência de que tudo está ligado, que nós, moradores do Bairro Fábrica, das ruas General Gomes Carneiro (a rua do quartel) e da Vila Militar, residências chefiadas por homens que serviam o exército. Fizemos nossa incursão no mundo da arte. Não, na música, mas no teatro. Nossa primeira reunião para a criação de um grupo de teatro foi na rua. À noite. Todo mundo sentado na calçada. E era uma esquina. Nosso líder era o Nilo Cézar Marins Tavares. Eu era uma espécie de “eminência parda”, o amigo confidente, conselheiro, que atuava nos bastidores, mas, que tinha poder sobre o meu interlocutor. Não aparecia, como é na política profissional.

O tempo passou. O grupo foi formado. Nome: Folha de Bananeira. Levamos alguns espetáculos teatrais (todos de autoria do Cézar) para os palcos centrais da cidade. Pró-Música. Fórum da Cultura. O que para nós significava uma importância danada, uma grande vitória. Fomos vistos. Buscávamos reconhecimento. Ao nosso modo, conseguimos. Tivemos matérias nos jornais locais. Geralmente, os textos tinham conteúdos de questionamentos sociais, apontamentos de injustiças sociais. E estávamos, no momento da história nacional caminhando para o fim do período ditatorial e repressivo. Nossos ensaios tinham convidados especiais, com olhares atentos sobre nossa atuação.

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Com essa entrada no mundo do teatro, aproximamos também da música. E os mineiros citados no início da Coluna, tinham nossa admiração e preferência em nossos encontros regados a “batida de limão” e conhaque Presidente. E um violão amigo para acompanhar. Dos músicos de BH passamos a conhecer outros ícones da música popular brasileira. Nossa versão estava na valorização dos nossos ídolos e artistas nacionais. Chico Buarque ganha a nossa motivação por suas letras e melodias que falam à nossa alma e ao nosso desejo de justiça social por melhores condições de vida para toda a população. Estávamos no caminho de construir nossos futuros e nossas carreiras profissionais e de vida.

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Hoje mais velhos, nossos sonhos não envelheceram. Inexoravelmente, o tempo andou mexendo com a gente, no melhor de Belchior. Mas estamos cumprindo a vida que há em todos nós. E o bonde dos oitentões está aí. Entre outros e outras. Com Milton, Gal Costa, Bethânia, Martinho da Vila, Ney Matogrosso, Paulinho da Viola, Gilberto Gil, Caetano, fazendo história e celebrando uma longevidade com muita arte e música da melhor qualidade. Imortais que são!

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