Diante de tantas incongruências, gestos concretos e atos oficiais contra a vida humana. Mais um vem em nossa direção. A entrada em vigor da 11ª versão da Classificação Internacional de Doenças, o famoso “CID”, pela Organização Mundial de Saúde, classificando a velhice como doença. Meu Deus, que total absurdo! Ao invés de comemorarmos a conquista da longevidade, mesmo que isso não passe com entusiasmo e orgulho pelos gabinetes dos nossos governantes, andamos para trás.
Fazer 60 anos ou mais é ficar doente. É perder a saúde e o apetite pela vida. É o que podemos interpretar dessa medida internacional. Não encontro outra justificativa para essa definição, a não ser pelo interesse econômico galopante das indústrias da saúde na comercialização da “cura da velhice”. Remédios, medicamentos, vitaminas e outros derivados para combater a “doença” do envelhecimento, como as prometidas e desejadas pílulas – de Cocoon – mágicas para a eterna juventude. Parece obra de ficção mesmo, mas, não é. Quem tiver mais de 60 anos passa a necessariamente ter que tomar remédio e se tornar dependente. O quanto essa novidade é imoral e ofensiva ao bem-estar da humanidade. E cai como uma luva para os padrões sociais brasileiros, onde reina uma cultura hostil de negação às pessoas pela idade que elas tem. Idadismo.
Etarismo. Gerontofobia. Todos esses nomes são utilizados para dizer da repulsa e da indiferença social e pública a todos nós que envelhecemos. E agora vem a OMS e declara uma bobagem dessa: velhice é doença! Que a velhice não é nenhum mar de rosas, isso a sociedade nos fala pela grande rejeição existente. É preciso considerar também que as velhices são muito diferentes entre si. Eu sei e acredito que o envelhecimento pode ser uma fase da nossa vida favorável para a realização de nossos sonhos e metas. E que mesmo com as perdas fisiológicas que ocorrem, envelhecer é um privilégio. E deve estar no radar da nossa trajetória de vida.
Desde que o mundo é mundo, o entendimento que a humanidade tem a respeito do seu envelhecimento é de desconsideração social. O planeta deve aos mais velhos. E nesses tempos de capitalismo cada vez mais selvagem, viver tem sido apenas um detalhe. O que importa e o que vale é a saúde financeira das nações. Na minha utopia e no meu sonho, a vida humana está acima de toda lógica social de relacionamento humano. Esse absurdo da OMS tem que ter resposta. Está na contramão da história. Em direção contrária ao progresso da ciência e do desejo humano de viver mais.
E se essa realidade de presença cada vez maior de pessoas idosas no nosso meio já chegou aos municípios, como é o caso de Juiz de Fora, é fundamental a participação do Poder Público na oferta de políticas públicas que garantam melhores condições de vida aos cidadãos e cidadãs que envelhecem. Vamos cuidar da saúde dos nossos idosos mesmo com as doenças existentes, vamos celebrar e comemorar a vida. Nenhum passo atrás. A vida é o nosso maior imperativo. De uma vez por todas, OMS, entenda que envelhecer não é adoecer. É muito menos oneroso para o país investir em seus habitantes idosos, porque assim a comunidade será atendida com todas as gerações.
Num momento de nova configuração mundial, enxergar a velhice como doença é “bola fora”. A OMS não me representa! No entanto, penso que é preciso considerar que há os que acreditam viver sem envelhecer. Há os que apostam no anti-envelhecimento de seus corpos, belos para sempre. E movimentam cifras gigantescas no mercado financeiro na comercialização de suas ideias e propostas. O envelhecimento humano tem se mostrado uma pauta muito vendável e de encaixe perfeito no consumo da ilusão da eterna juventude. Por que não encaramos o nosso envelhecimento de frente? Por que esse assunto ainda é tão invisibilizado na gestão de nossas cidades? Ou, quando é visto, é tomado de maneira tosca e completamente sem sentido, como é o caso desse assunto que ocupou essa crônica nesta sexta-feira de hoje.
Por um envelhecimento saudável e ativo para todos nós!